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BRASIL-EUROPA
www.brasil-europa.eu
Centro de Estudos Culturais Brasil-Europa
Villa Pedro II°
sede européia da
Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência
Dieringhauser Str. 66
51645 Gummersbach
República Federal da Alemanha
Vors. Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo
Pedro II° (1825-1891) pode ser considerado como um dos mais notáveis vultos da História Cultural e Política do século XIX pela prioridade que concedeu à ciência e à cultura no seu pensamento e na sua ação. Era levado por uma procura constante de conhecimento, o que tinha como pressuposto um saber diversificado, um interesse pelas culturas do mundo e de suas relações. Estava sempre pronto a se orientar segundo o mais recente desenvolvimento do pensamento, independentemente das nacionalidades e da especialização dos intelectuais e cientistas. Esforçou-se em dar posição privilegiada ao ensino, à cultura e à pesquisa no exercício de sua posição como chefe de Estado. Como poucos de sua época travou contatos com numerosos representantes de diferentes esferas do saber, da pesquisa e da criação intelectual e artística de várias nações, mantendo relações com instituições européias e norteamericanas, com pesquisadores e eruditos, apoiando a realização de pesquisas de estrangeiros no Brasil e estudos de aperfeiçoamento de brasileiros na Europa. Pedro II° surge hoje, singularmente, como uma personalidade histórica que salienta, de forma bastante atual, o significado e a necessidade da reflexividade e da ética. Por essa razão, a Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência, cujo centro de estudos europeu é designado pelo seu nome, procura conservar a sua memória na consecução de seus objetivos.
D. Pedro II. e as Ciências
(Extrato de conferência proferida no ano de abertura do Centro
de Estudos da A.B.E. na Europa, em 1997, em sessão realizada sob
o patrocínio da Embaixada do Brasil em Bonn)
» Dr. Harald Hülskath
(trad. do alemão)
(...)
Por ocasião da passagem dos 150 anos de nascimento de Pedro II°,
em 1975, publicaram-se várias obras a seu respeito no Brasil e
no Exterior. Deve-se salientar, sobretudo, um catálogo do Arquivo
Nacional, de 1977, onde se divulgam documentos relativos à cultura
extraídos da correspondência diplomática de Pedro II° com os legados
brasileiros no Exterior. Essa publicação oferece dados a respeito
dos livros, das obras de arte, das coleções e dos aparelhos científicos
que chegaram ao Brasil por caminho oficial e das relações do imperador
com estudiosos e instituições de todo o mundo:
Ministério da Justiça, Arquivo Nacional. Dom Pedro II e a Cultura. Rio de Janeiro, 1977 [Publicações históricas, 1a. Série, 82]
(Pesquisa e elaboração de Maria Walda de Aragão Araújo).
Desde então, surgiram outros estudos; entretanto, o papel de Pedro
II° na História Científica e Cultural do Brasil e naquela dos
contextos globais está ainda longe de estar suficientemente investigado.
(...)
Uma consideração do tema "D. Pedro II° e as Ciências" não deveria
iniciar sem citar, em primeiro lugar, o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, instituição particularmente apoiada por
Pedro II°. Tomando parte nas suas sessões, que até mesmo se efetuaram
por vezes no palácio, estando presente em sessões e conferências,
participando de discussões e incentivando a realização de estudos,
desempenhou papel de alta relevância no desenvolvimento da instituição
e dos seus trabalhos. Altamente interessado na pesquisa científica
do país, apoiou cientistas estrangeiros e expedições de pesquisa.
(...)
Devido à sua posição como chefe de Estado, não podia contribuir
com trabalhos próprios para publicações científicas. Não se via
também em condições, pelo mesmo motivo, de colaborar na elaboração
de estatutos de associações científicas ou subvencionar publicações
periódicas, embora auxiliando-as ocasionalmente com doações. Não
dava pareceres por escrito sobre obras estudadas e nem concedia
condecorações por obras a êle dedicadas.
A sua contribuição pessoal para o desenvolvimento das Ciências
residiu sobretudo no seu conhecimento da situação da pesquisa
em várias áreas do saber e nos seus contatos pessoais com estudiosos
do Exterior.
Constante atualização de conhecimentos
Pedro II° informava-se sobre o estado mais atual de diversas ciências
primeiramente através de catálogos. Em 1853, a sua livraria em
Paris passou a utilizar-se da denominação de "Distribuidora da
Côrte Imperial". Dos Estados Unidos, recebia já nessa época os
almanaques americanos. Em Portugal, mantinha relações com o antiquário
Monteiro Campos, na Alemanha com o antiquário Hoehlers e Riemann,
em Coburg. O livreiro Trübner, de Londres, ofereceu-lhe, em 1878,
uma coleção de livros referentes à ocupação do trono português
por Dom Miguel. Também bibliotecas e outras instituições culturais
faziam-lhe chegar informações sobre temas brasileiros, portuguêses
e espanhóis. Da Direção Geral dos Museus de Berlim recebeu a edição
completa de Frederico o Grande. Também a edição monumental da
Flora de Martius chegou às suas mãos por esse caminho. Quando, em 1882,
lançou-se o catálogo do Museu Britânico com os manuscritos ali
conservados, Pedro II° adquiriu-o de imediato. Nesse ano, encomendou
também a versão inglêsa de Os Lusíadas de Camões. Conhecia pessoalmente várias bibliotecas européias
e norte-americanas e travara conhecimento com os seus diretores.
Deve-se salientar a Biblioteca da Academia Real das Ciências de
Lisboa, por êle várias vezes visitada. Quando, em 1881, soube
que tinha sido lançado um International Scientist Directory pediu imediatamente que emissários do Brasil na Europa o procurassem.
Estava sobretudo muito bem informado a respeito do desenvolvimento
dos estudos na França, de onde recebia o Guide scientifique.
Para ter conhecimento das mais recentes publicações e de eventos
científicos contava com a colaboração das legações brasileiras
no Exterior. O Ministro Plenipotenciário na França tinha o encargo,
já em 1864, de fazer assinaturas de periódicos científicos. Em
1879, os membros da legação de Londres realizaram uma coleção
de recortes de jornais relativos aos trabalhos da Sociedade Britânica
para o Progresso da Ciência.
Contatos com instituições científicas
Os seus vínculos com academias científicas foram particularmente
gratificantes. Por ter estado presente a conferências e a experimentações
na Academia das Ciências da Filadélfia, esta enviou-lhe várias
publicações, em 1876. Boas relações mantinha com a Academia de
Medicina em Paris, da qual solicitava pareceres sobre publicações
médicas e dissertações. Em 1885, recebeu os Anais da Academia
de Ciências de Berlim.
Pedro II° apoiou também financeiramente sociedades e empreendimentos
científicos e culturais do Exterior. Assim, auxiliou, por exemplo,
o Archaelogical Institute of America, em 1879, e, em 1885, a Sociedade Científica Flammarion, de Marselha. O interesse científico de Pedro II° foi reconhecido
por várias instituições. Tornou-se membro de várias sociedades
européias e americanas, como, por exemplo, da Sociedade de História
Natural do México, em 1884.
Nesse mesmo ano, foi-lhe concedido o título de Doutor h.c. da
Universidade de Löwen, Bélgica. Na Alemanha, manteve relações
especiais com instituições do Grão-Ducado de Baden. Assim, foi
informado pormenorizadamente a respeito de um novo hospital da
Faculdade de Medicina de Heidelberg. De Jena, enviaram-lhe a lista
das dissertações ali apresentadas. Manteve contactos com pesquisadores
de Gent, Erlangen, Breslau, Stockholm, Viena, Yale, Budapest,
Padua e outras cidades da Europa e da América do Norte. Nos Estados
Unidos, acompanhava sobretudo os trabalhos da Smithsonian Institution. Durante a sua visita a Oxford observou os trabalhos de tradução
do Novo Testamento e encomendou imediatamente um exemplar da obra.
Pedro II° dispunha de uma memória excepcional, que lhe permitia
guardar nomes de autores, títulos de publicações, fatos e idéias.
Durante as suas visitas às diversas instituições tirava também
notícias por escrito. Foi nomeado até mesmo a primeiro membro
honorário do círculo francês para o fomento da Estenografia.
Matemática
As Ciências Naturais, no Brasil, segundo a opinião de observadores estrangeiros, estavam menos desenvolvidas do que os estudos humanísticos. Por essa razão, os contatos de Pedro II° com pesquisadores e instituições do Exterior adquirem significado especial. Via o fomento do estudo da Matemática como pré-condição para o desenvolvimento das Ciências no país. Recebeu, a partir de 1864, as Nouvelles annales de mathematique, em 1875, uma Neue Methode deskriptiver Geometrie, em 1883, publicações sobre elipsografia da Itália, em 1884, uma obra sobre geometria descritiva e do espaço da Áustria, e, a partir de 1886, assinou o American Journal of Mathematics. A partir dos novos impulsos surgiram também no Brasil publicações sobre Aritmética e Geometria, como, por exemplo, os exercícios de Pereira de Carvalho, de Niterói (1885).
Astronomia
Uma atenção especial dedicava Pedro II° à Astronomia. No Brasil, ela estava representada no Observatório Astronômico Imperial do Rio de Janeiro. Quando um religioso francês introduziu a Astronomia no currículo dos seminaristas de São Paulo, no começo dos anos setenta, contou com o apoio do imperador. Nas suas visitas no Exterior, Pedro II° fazia questão de visitar observatórios, como, por exemplo, o de Atenas, em 1876, então sob a direção do cientista alemão Dr. Julius Schmidt e que posteriormente enviar-lhe-ia as suas publicações. Em 1878, recebeu o material para o curso de Astronomia da Escola de Guerra da Bélgica. Em 1880, encomendou nesse país a Allgemeine astronomische Bibliographie de Houzeaz e Lancaster. Recebeu dados de astrônomos canadenses a respeito das novas pesquisas relativas ao movimento dos corpos celestes e estava bem informado a respeito da pesquisa de Marte. Conhecia também uma nova teoria relativa à constituição física do sol, de 1880. Em 1882, assinou a revista francesa de Astronomia. Quando, no mesmo ano, cientistas inglêses foram enviados ao Chile para a observação do trânsito de Vênus, fêz questão que os legados brasileiros fossem exatamente informados a respeito dos resultados. Recebeu publicações especializadas da Liverpool Astronomical Society, em 1887, e, em 1889, do diretor do Observatório de Hamburgo.
Química e Física
Pedro II° acompanhava também com interesse os progressos da Química. Em 1863, chegaram ao Rio 8 caixas com aparelhos e produtos para o laboratório químico imperial. A partir de 1864, assinou as Annales de Chimie et Physique da França. Quando, em 1889, Dupuy enviou-lhe o primeiro volume de sua obra sobre alcalóides, mandou que os legados brasileiros fizessem que o autor soubesse que, antes de um eventual reconhecimento gostaria de avaliar pessoalmente a obra.
Geologia e Geografia
Quanto à Gealogia e à Mineralogia, o interesse de Pedro II° se
justifica pela riqueza do solo brasileiro e pela tradição dos
estudos nessa área. Apoiou financeiramente o levantamento de uma
estátua do geólogo Elias de Beaumont, na França. Acompanhou pessoalmente
as pesquisas relativas a minerais brasileiros de Persifer Trazer,
na Filadélfia, e recebeu a grande obra Geology of New Hampshire. Dava particular atenção à Hidrografia, lendo com entusiasmo
relatos de viagens, não apenas aqueles relativos ao Brasil. Acompanhava
com interesse as expedições científicas, como, por exemplo, a
viagem de pesquisa austríaca ao Polo Norte.
No que diz respeito à Geografia, deve-se sobretudo citar que Pedro
II° foi membro honorário de várias associações geográficas, por
exemplo aquelas da Argentina de de diversas cidades da França.
Recebia os anuários da Sociedade Geográfica de Munique, os anais
da Sociedade Geográfica de Londres, os boletins da sociedade de
Antuérpia e, a partir de 1881, os boletins do Instituto Geográfico
Internacional. Da Inglaterra recebeu obras relativas à Geodésia.
Ainda no último ano de seu govêrno ocupou-se com a Topografia
e recebeu publicações da Sociedade de Topografia da França.
Medicina e Biologia
Pedro II. recebia relatos de congressos médicos internacionais e publicações relativas à Oftalmologia, Otologia, Patologia, Pediatria e Psicopatologia. Apoiou financeiramente o Institut Pasteur. Ouviu conferências sobre Zoologia e História Natural nos Estados Unidos e recebeu séries de livros sobre Zoologia Comparada. Assinou publicações relativas à Ornitologia em Papua e nas ilhas Molucas, sobre os pássaros da Austrália, sobre borboletas da Índia, de Burma e do Ceilão, publicações da Sociedade Ornitológica de Viena e relatos anuais do Comitê de Estações de Observação Ornitológica da Áustria-Hungria. Contribuiu com doações para um busto de Henri Bouley, presidente da Academia de Ciências da França, colocado na Escola Superior de Veterinária de Paris. Colocou a sua coleção particular de insetos à disposição da Academia de Ciências, Artes e Artesanato de Barcelona.
História e Filologia
Em primeiro lugar, deve-se salientar mais uma vez o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro como instituição particularmente
apoiada por Pedro II° e o seu relevante papel para o desenvolvimento
das Ciências Históricas, Geográficas e Etnográficas no Brasil.
Saliente-se o interesse de Pedro II° pela filologia e pela pesquisa
de fontes. Adquiriu léxicos, etimologias e livros de Lingüística
de vários idiomas antigos e modernos, tais como grego, latim,
russo e tupi-guarani. Já em 1850 encomendava, através da Legação
em Paris, cópias de manuscritos ali conservados e que poderiam
ser de interesse para o Brasil. Assim, em 1878, o legado em Portugal
encontrou uma edição rara da obra de Teixeira Albernás, de 1631.
O interesse historiográfico e bibliográfico do Imperador era conhecido
em círculos especializados. Pedro II° estava em condições de estudar
obras em diversos idiomas, podendo julgar a qualidade de traduções.
Assim, em 1878, ocupou-se com um trabalho publicado em hebraico
sobre a guerra entre a Alemanha e a França. Aliás, dedicava especial
atenção à história alemã. Em 1882, recebeu um exemplar da obra
Die Hohenzollern und das deutsche Vaterland. Também possuía várias publicações relativas à Bélgica.
Pedro II° conhecia a história do continente americano particularmente
bem. Era membro da Sociedade Internacional dos Americanistas e
subscrevia a Enciclopédia Americana. Em 1879, recebeu uma obra relativa à então muito discutida hipótese
de relações entre a América e o Velho Mundo anteriores a Colombo.
Também recebeu escritos polêmicos relativos às circunstâncias
do descobrimento e da conquista do Novo Mundo, publicados então
no Peru. Estava bem informado a respeito de publicações sobre
a história dos Estados Unidos. Deixava que legados procurassem
obras raras e conhecia escritos de estadistas norte-americanos.
Lia relatos de viagens de europeus sobre a América Latina e, através
das representações diplomáticas, recebia obras referentes às diversas
nações sul-americanas. As publicações relativas ao Brasil lançadas
na Europa eram naturalmente levadas a seu conhecimento, como,
por exemplo, um livro lançado em 1873, em Leipzig, sobre a província
do Paraná. Quando, em 1886, fundou-se na França uma Sociedade
Internacional de Estudos Brasileiros, o seu retrato foi colocado
na sua sede.
Arqueologia e Antropologia
Notável é o interesse que se constata em Pedro II° pela Arqueologia, Pré-História e Antropologia. Recebeu, em 1881, publicações sobre o homem pré-histórico na França e na Algéria; em 1883, encomendou, em Viena, uma obra sobre Arqueologia da Boêmia. Mantinha contatos com renomados arqueólogos e com o Instituto alemão de Arqueologia em Roma. Estava bem informado a respeito das escavações em Roma e em Citobriga, Portugal. Fêz com que legados de Londres adquirissem obras arqueológicas relativas à Índia e que o Ministro Plenipotenciário na Alemanha comprasse o livro Das Gräberfeld von Hoban im Lande der Osseten. Tinha conhecimentos a respeito do passado pré-hispânico do México, do Peru e da América do Norte. O Instituto de França enviou-lhe, em 1884, o Corpus das inscrições semíticas. Da Smithsonian Institution recebeu a relação de todos os livros publicados sobre Antropologia entre 1847 e 1878, isso através da Comissão Central brasileira para o intercâmbio de publicações.
História das Religiões
Saliente-se também a atenção que Pedro II° dedicava a obras de História das Religiões. Leu a História da Igreja Francesa do século XVIII de Remade, lançada em 1876. Fez que a Direção Central do Instituto Arqueológico Alemão de Roma adquirisse para o seu uso as Cenas da História da Igreja, de Ivanoff, de 1879. A partir de 1882, recebeu a Revista de História da Religião e os Anais do Museu Guimet em Lyon, assim como uma publicação sobre o Budismo. Estava informado sobre as tradicões afro-americanas através do livro Le Pantheon Haitien, de Edouard. Possuia várias obas de história, ritos e costumes judaicos. A Biblioteca da Real Associação Asiática Britânica fêz que recebesse os Vedas nas tradução de Max Müller, em 1877. No ano seguinte, recebeu uma "História de Confúcio".
Artes e Música
Poder-se-ia dizer que também o interesse de Pedro II° pelas artes e pela música seria mais de cunho científico-cultural do que propriamente prático, apesar de suas aptidões em diversas áreas artísticas. Possuía a então fundamental obra de Hoorich sobre a Arte nos Países Baixos dos séculos X ao XV e várias obras de História da Arquitetura. Em 1876, recebeu, através de um livreiro de Halle, a obra Il Canzionere Portoghese della Bibliotheca Vaticana. Em 1878, ocupou-se com música japonêsa com base no trabalho de Alexander Krauss e informou-se sobre novos métodos de Ginástica Musical de Stanislas de Lesser , de Bruxelas. Assinou, a partir de 1884, uma revista musical de Paris. Pedro II° sentia-se particularmente vinculado ao desenvolvimento do pensamento musical na esfera de língua alemã. Apoiou financeiramente a Fundação Internacional Mozart de Salzburg e era tão impressionado pela obra musical e literária de Richard Wagner que fêz que fosse convidado a vir ao Rio de Janeiro para contribuir ao desenvolvimento de uma Ópera Nacional. Visitou a Casa de Festivais de Bayreuth e apoiou financeiramente projetos de Wagner naquela cidade. Possuía o catálogo de publicações sobre Richard Wagner de Osterlein. A sua intenção era a de superar a dependência musical brasileira da Italia, aproximando-o do desenvolvimento centro-europeu da linguagem musical.
Fotografia
Uma menção especial merece o entusiasmo de Pedro II° pela litografia e, sobretudo, pela fotografia, que então se encontrava em estágio inicial desenvolvimento. Na fotografia, tudo indica que apreciava sobretudo o seu valor documental como meio para o enriquecimento do saber. Significativamente, não se mostrou muito interessado na invenção de Guilbot, que possibilitava a transformação de fotografias em gravuras artísticas. Adquiriu um laboratório fotográfico. Em 1872, recebeu de Amsterdam trabalhos cromolitográficos. Adquiriu várias coleções de imagens e retratos. Através do serviço diplomático, conseguiu vistas fotográficas da Terra Santa e dois albuns com imagens de ruinas. O seu desejo de conhecer o mundo também era saciado com fotografias de paisagens e de cidades. Assim, recebeu vistas do Canadá e uma coleção de fotos dos Alpes. No próprio Brasil, acompanhou por meio de fotografias a construção da estrada de ferro do Paraná, o levantamento de um monumento a D.Pedro I°, o desenvolvimento da colonização com imigrantes alemães e a construcão de escolas no Nordeste. Por fotos fazia uma imagem da presença brasileira em exposições mundiais. Possuia uma coleção de fotos com retratos de presidentes e vice-presidentes dos Estados Unidos e de Bismarck. Adquiriu uma coleção de fotografias de objetos do Museu Britânico, assim como de uma grande coleção de 157 fotos etnográficas e arqueológicas. Encomendou fotografias dos principais objetos de uma exposição no Champs-Élysées. Com entusiasmo tomou conhecimento da existência de uma coleção de imagens microscópicas, em Paris, adquirindo-a para o ensino de seus filhos em Anatomia.
Ciência Aplicada e Técnica
O interesse de Pedro II° por Ciência Aplicada e Técnica não deveria ficar sem ser mencionado. Ocupou-se com as ciências da Engenharia e recebeu publicações sobre Estruturas, Construção de Açudes, Hidráulica, Mecânica e Saneamento. Já em 1855 pedira com urgência programas de Escolas Politécnicas da Europa. Assinou vários periódicos sobre assuntos que lhe pareciam ser de utilidade para o Brasil, tais como, a partir de 1864, os Anais de Construção de Pontes e Estradas, o Repertório da Legislação sobre Estradas de Ferro, a Revista Internacional de Estradas de Ferro do Mundo, o Jornal de Agricultura Prática, e outros. Também lia magazines de difusão de conhecimentos, tais como a Revue des Deux Mondes. Mantinha contato com sociedades de fomento industrial, tais como com a sociedade francesa para o desenvolvimento das artes e da indústria. Informou-se sobre métodos de construção de edifícios resistentes a terremotos através de publicações da Universidade de Pádua. Também mostrou interesse por novos aparelhos de jardinagem, pára-raios e pela invenção da caneta-tinteiro.
Agricultura
Pedro II° acompanhava com particular interesse progressos na Agricultura e na Zootecnia. Tornou-se membro correspondente da Sociedade Nacional Francesa de Agricultura. Colocou uma parte do jardim do seu palácio no Rio de Janeiro à disposição de uma sociedade zootécnica. Estava informado a respeito dos métodos práticos de vinocultura através da Sociedade Francesa de Higiene. Também recebia recentes informações da Société d'Aclimatation sobre a pesca, inclusive na China. Nas suas visitas no Exterior, fazia questão de conhecer as novidades da tecnologia. Assim, presenciou em Edinburgo experimentações de William Thompson para a instalação de cabos submarinos. Ficou tão bem impressionado que apoiou a iniciativa de Mackenzie em colocar cabos em águas brasileiras. Das investigações do solo submarino entre o Pará e Pernambuco recebeu provas mineralógicas. Já em 1851 possuia um pequeno telégrafo elétrico; encomendou mais tarde modelos de sistemas telegráficos na Áustria e recebeu da Alemanha publicações com informações introdutórias sobre a Telegrafia Elétrica. Acompanhou os trabalhos de Thomas Edison e foi um dos primeiros vultos da vida pública a falar ao telefone. Com interesse acompanhou a discussão relativa aos aspectos positivos da luz elétrica em comparação à iluminação a gás e sobre o desenvolvimento técnico de bondes e elevadores.
Educação
A atenção talvez principal de Pedro II° dirigiu-se ao fomento do ensino secundário no Brasil. A formação de uma juventude bem preparada parecia-lhe pré-condição para o desenvolvimento dos estudos mais avançados. Não a quantidade, mas sim a qualidade dos estudos deveria estar no centro das preocupações. A escola modelar do país era o Colégio Imperial Pedro II°, fundado em 1837. Apesar de sua alta posição no estado, assistia pessoalmente a festas colegiais, a entregas de prêmios e a exames. Dava uma atenção especial também à escola que fêz construir no jardim de sua residência. Dava orientações quanto à compra de livros e à sua classificação. Também apoiava o desenvolvimento das escolas particulares, sobretudo das renomadas "Escolas Abílio", fundadas e dirigidas pelo Barão de Macaúbas. Pedro II° e seu genro, D. Gastão d'Orleans, se empenharam para que no Rio de Janeiro se realizasse um primeiro Congresso de Pedagogia. Numa exposição, foram apresentados os mais modernos métodos de ensino de então e quadros da situação da Didática em vários países da Europa. Devido a esse empenho pelo ensino secundário, Pedro II° não deixou de ser irônicamente visto pelos seus críticos como um "mestre-escola" da nação.
Tentativas de uma avaliação
Pedro II° foi um pesquisador da vida e a vida parecia-lhe uma viagem. Procurava constantemente ampliar os seus horizontes e aprofundar os seus conhecimentos. Procurava o novo e o desvendamento do desconhecido; esforçava-se para nada perder relativamente ao que acontecesse de novo nas ciências e no desenvolvimento técnico. Tinha a aptidão de travar contatos e possuia um sentido para avaliar caminhos na evolução científica e técnica. Procurava combinar as várias áreas do saber entre si e, por fim, visava nas várias disciplinas e no seu relacionamente um sentido último, dando atenção às fontes. Para êle, o mundo das idéias tinha a prioridade perante o mundo da realidade material. Esta não deveria limitar o universo das idéias, mas sim, ao contrário, as imagens guiadas pelo conhecimento deveriam tomar forma real. Pretendia, assim, preparar para o Brasil um futuro promissor, fundamentado o mais solidamente possível em conhecimentos e em reflexões cuidadosas.
(...)
» para a consideração de documentos da época: palavras proferidas na Real Associação dos Arquitetos Civís e Arqueólogos Portuguêses por A. da Cunha (1893)
» dados de outras personalidades da História Cultural