Noruega. Foto A.A.Bispo 2012. Copyright. Arquivo A.B.E.
Os trabalhos da Academia Brasil-Europa relacionados com a Noruega partem da convicção de que, apesar da distância geográfica e de formação histórica, estudos que relacionam a Noruega e o Brasil podem ser altamente produtivos para ambos os países e para os estudos culturais no seu todo.


Pressuposto para o desenvolvimento promissor desses estudos é que sejam conduzidos sob uma perspectiva ampla, de natureza teórico-cultural, que atente a correntes de pensamento e a processos histórico-culturais transnacionais. Trata-se, assim, antes de exames de encontros de tendências e concretizações contextualizadas de formas de pensar, de caminhos de reflexão e de expressões culturais, para além de constatações mais superficiais de elos históricos e de contatos histórico-culturais mais explícitos.


Noruega. Foto A.A.Bispo 2012. Copyright. Arquivo A.B.E.
O Brasil une-se à Noruega, nesse sentido, de forma muito mais intensa do que se poderia inicialmente supor. Esse interrelacionamento manifesta-se de forma privilegiada sob uma perspectiva dirigida à música. Tal constatação poderia parecer inicialmente singular, uma vez que uma visão mais superficial da música conotada como brasileira pouca similaridade demonstra com a música da Noruega. Se considerar-se porém uma fase mais remota de um desenvolvimento histórico-musical marcado pela conscientização do valor do patrimônio representado pela tradição popular, então constatam-se paralelos e elos nos desenvolvimentos e mesmo vínculos humanos e estéticos.


Noruega. Foto A.A.Bispo 2012. Copyright. Arquivo A.B.E.
Assim, o compositor cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920), vulto exponente da história da música brasileira, casando-se em 1893 com a pianista norueguesa Walborg Bang, discípula de E. Grieg (1843-1907), frequentou a casa deste principal compositor da Noruega, realizou estudos em órgão nesse país e de lá trouxe para o Brasil impulsos para a prática musical, o ensino e a organização da vida musical. Contribuiu ao desenvolvimento estético da criação musical, à pesquisa da música de tradições populares e ao ideal de formação de um patrimônio sonoro a serviço de uma identidade nacional.


A Academia Brasil-Europa, devido a seu histórico, não se limita nos seus estudos voltados à Noruega a esses paralelos e elos de expressões e concepções nacionais ainda resultados de um Romantismo tardio.


Quando, em 1919, estruturou-se, em Salzburg, Áustria, uma academia constituída por estudantes e professores do Mozarteum preocupados com a renovação cultural européia após a Primeira Guerra Mundial, cujos membros emigrariam em parte para o Brasil, a preocupação de seus componentes era mais dirigida a uma transformação profunda de visões, a uma reconscientização de valores humanos para além de configurações históricas de nações.


Contato com o mundo norueguês processou-se sobretudo através de Edvard Munch (1863-1944). O fundamental interesse que também aqui havia pelo estudo das expressões culturais populares diferenciava-se daquele de outras correntes provenientes de um interesse pelo folclore, de tradição sobretudo literária.


Noruega. Foto A.A.Bispo 2012. Copyright. Arquivo A.B.E.
O redespertar da atenção a estudos que relacionam a Noruega e o Brasil vinculou-se com a preocupação de atualização teórica dos estudos culturais a partir da fundação da entidade constitutiva da organização Brasil-Europa, em 1968.


A orientação a questões de difusão cultural, a processos, ao estudo de seus mecanismos e sentidos, para além das delimitações disciplinares de esferas ou áreas da cultura dirigiu a atenção à Noruega anterior e posterior a Grieg e ao Brasil anterior e posterior a Nepomuceno.


Nessa intenção, realizaram-se, em 1982, após uma primeira viagem para primeiros contatos em 1976, esforços mais amplos de estudos e observações dos múltiplos aspectos da cultura norueguesa em várias cidades do país, entre elas Bergen, Trondheim e Stavanger.


Noruega. Foto A.A.Bispo 2012. Copyright. Arquivo A.B.E.
Esse empreendimento baseou-se em estudos que procuraram considerar o papel desempenhado pelos povos da Noruega na história das navegações, dos descobrimentos e das relações com o continente americano, uma vez que o alcançaram em tempos remotos.

A Noruega se manifestou nesses trabalhos no seu transcendente significado para os estudos histórico-culturais nórdicos, não apenas no referente a um edifício de concepções do mundo e do homem orientadas segundo o Norte, uma norteação que também perpassa a linguagem simbólica de expressões culturais conhecidas no Brasil.


A relevância da Noruega se manifestou também relativamente à história da transformação cultural causada pela cristianização dao norte da Europa. Os monumentos da arquitetura religiosa da Noruega adquirem, assim, extraordinário interesse para uma história das artes de orientação cultural.


As reflexões dos próprios pensadores do país quanto às formas de relacionamento com esses fundamentos de edifícios de concepções, com o seu patrimônio cultural e com as correntes de pensamento recebidas de outras culturas surgem como de particular relevância para o desenvolvimento dos estudos culturais em geral.


Com o sentido de atualização dos conhecimentos e revitalização dos contatos, ecom a colaboração da Biblioteca Nacional de Oslo, que possibilitou uma visão geral dos materiais relativos ao Brasil ali conservados, realizou-se, em 2003, uma nova viagem da A.B.E. para observações e estudos.


O escopo desse empreendimento foi sobretudo o de examinar as consequências para o país das transformações políticas e político-culturais da Europa nos últimos anos e, sobretudo, das correntes imigratórias e de desenvolvimentos multiculturais. 


Dos trabalhos mais recentes, salientam-se os ciclos de estudos desenvolvidos em 2012 e que levou ao Cabo Norte, onde o Brasil se encontra representado em trabalho de criança do Rio de Janeiro realizado no âmbito do projeto The Children of the Earth Prize. Essa visita suscitou renovadas reflexões relativas ao Norte na concepção do mundo geo- e logocêntrica e suas implicações em reordenações em concepções nacionais e nacionalistas. Uma especial atenção foi dedicada a questões de arqueologia cultural, consideradas em visita ao museu Casa Wiking de Borg, Lofotes. Questões culturais de atualidade relativos a lapões como indígenas de terras hiperbóreas nas suas relações com os estudos indígenas no Brasil e no continente americano em geral foram tratados sob especial consideração de problemas resultantes de exploração econômica de recursos naturais.




Materiais
Apenas os disponíveis nos sites da A.B.E.

(em elaboração)


  1. A questão das equiparações de escolas de formação artística à Universidade. Uma circular a universidades e conservatórios europeus

  2. Noruega/Brasil. Luzes nórdicas e sol da meia-noite: o Norte na concepção do mundo geo- e logocêntrica e análises de reordenações nacionalistas do edifício cultural em relações Noruega-Brasil a serviço de uma abertura de visões

  3. Momentos do desenvolvimento das reflexões Brasil/Noruega: Música e Nacionalismo nas suas inserções românticas a partir de Alberto Nepomuceno (1864-1920). 30 anos de encontro-audição na Rheinische Musikschule/Konservatorium der Stadt Köln:
    I. Aproximações ao movimento Bach e litúrgico protestante alemão nos seus elos com a Noruega e o Brasil. Heinrich von Herzogenberg (1843-1900) e Christian Capellen (1845-1916)
    II. Desenvolvimento institucional do ensino musical na Alemanha e o interesse pelas expressões tradicionais nos seus elos com a Noruega e o Brasil. Arno Kleffel (1840-1913) e Edvard Grieg (1843-1907)

  4. Cabo Norte. O Cabo Norte como objeto de Estudos Culturais. O fascínio da viagem à terra do Norte como fenômeno internacional e elos da pesquisa nórdica com a história científica do Brasil. August Christoph Carl Vogt (1817-1895) e Louis Agassiz (1807-1873)

  5. Cabo Norte. A presença do Brasil no Cabo Norte: O Cristo Redentor do Rio de Janeiro na expressão infantil da visão do mundo logocêntrica The Children of the Earth Prize

  6. Lofotes. As aldeias de pescadores mais a Norte do globo na elucidação de elos comerciais internacionais e obscuros costumes alimentares. Os caminhos do bacalhau à Itália, a Portugal e ao Brasil e a imagem do Piscis Australis

  7. Åndalsnes. Substituição de imagens como indicativo de transformações no edifício cultural. Da barca na tradição eclesiástica e secular nacionalista ao trem-capela do Serviço de Assuntos Eclesiais da Noruega

  8. Borg, Lofotes. Arqueologia cultural e os problemas de procedimentos anacrônicos. Cinematografia a serviço de projeções de imagens do presente ao passado no exemplo da Casa Wiking de Borg

  9. Magerøya. Lapões como indígenas de terras hiperbóreas e indígenas no Brasil. Da Etnologia comparada à análise de mecanismos de processos culturais em contextos transnacionais

  10. Trollstigen. O Trolle na Noruega e do Curupira e Caiapora no Brasil. Do Folk-lore comparado à análise do edifício cultural e suas transformações em enfoques transnacionais

  11. Stavanger. O ver ouvindo e o ouvindo ver nas transformações do edifício cultural. De referenciações históricas de conhecimentos empíricos no exemplo de St. Swithin (ca. 800-862) à "Cartilagem auricular" do Barroco protestante nórdico

  12. Stavanger. Emigração norueguesa ao continente americano e a Leitura como causa. A "febre americana" na Noruega e o Brasil: envio de obra científica a Pedro II°

  13. Trondheim. "Reconstruindo o que nunca houve". A maior catedral (neo-)gótica do Norte europeu sob a perspectiva da Unidade na Diversidade de elementos não mais compreendidos do sistema logocêntrico. 125 anos da morte de Heinrich Ernst Schirmer (1814-1887)

  14. Ålesund. A força da terra no Reconstruído sob a égide de anelos nacionais. Exercícios de leitura da capital nórdica do Jugendstil

  15. Trondheim. Estudos Culturais na tradição das Escolas Técnicas. A Universidade Técnico-Científico-Natural da Noruega NTNU e a vida estudantil de Trondheim: O "Rockheim" como centro nacional de vivência e pesquisa da música popular

  16. Tromsø. Pesquisa, Ensino, Economia e Processos Sociais no Extremo Norte. Mobilidade nas suas relações com Gênero - Indústria Extrativa e Culturas Indígenas. Universidade de Tromsø

  17. Tromsø. O movimento político-cultural dos sami nas suas relações com processos internacionais de consciência indígena. Museu de Tromsø: o mais antigo centro de pesquisas do Norte da Noruega

  18. O descobrimento nórdico da América da saga como monumento histórico no contexto político islandês e na moldura da catedral dos salmos

  19. Snorri Sturluson (1179-1241) - o Descobrimento da América na Saga de Olaf Tryggvason no Heimskringla. Ocasiões de cultivo de sagas - práticas nórdicas (Snorralaug)

  20. Rêdes sociais na história político-cultural. Vínculos entre as casas reinantes na Europa no período anterior à Primeira Guerra Mundial

  21. Escandinávia e os estudos da interação de processos transatlânticos e interamericanos









 

BRASIL-EUROPA
www.brasil-europa.eu

Organização de estudos de processos culturais em relações internacionais (registrada 1968)
Academia Brasil-Europa

Direção: Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo

Noruega. Foto A.A.Bispo 2012. Copyright. Arquivo A.B.E.
©

ESTUDOS CULTURAIS EUROBRASILEIROS RELACIONADOS COM A

NORUEGA

 


Andalsnes. No texto: Casa Viking, Lofoten 2012. Fotos A.A.Bispo. Arquivo A.B.E. ©

 

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