BRASIL-EUROPA
PROCESSOS CULTURAIS EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

 
 
Torre de Belem, Lisboa. Foto A.A.Bispo 2013. Arq. A.B.E.

A institucionalização da musicologia nos estudos universitários de Portugal foi estreitamente relacionada com o programa de interações para a renovação de perspectivas e práticas culturais preparado no Brasil e iniciado na Alemanha em 1974 com o apoio do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD).


Nesse mesmo ano, realizara-se uma viagem de contatos e estudos a Portugal por professores da Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo para a observação da situação da pesquisa e dos estudos em instituições portuguesas visando posteriores cooperações no sentido da orientação teórica preconizada.


A partir de 1975, as relações passaram a ser desenvolvidas com maior intensidade pelo fato de atuar como pesquisadora residente no Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia a Dra. Maria Augusta Alves Barbosa, professora do Conservatório Nacional de Lisboa. Contando com grande experiência de vida, de estudos, pesquisa e ensino em Portugal e na Alemanha, essa musicóloga acalentava o plano de instituir em Portugal a área de estudos das Ciências Musicais no quadro adequado, ou seja, não no âmbito de instituições de música prática, mas sim da área universitária das Ciências Humanas.


Esse intento vinha de encontro àquele do programa preparado no Brasil, de modo que se desenvolveram intensos diálogos e encontros para a troca de experiências, conhecimento mútuo de concepções e seu desenvolvimento em conjunto. Projetos oficiais de reforma de ensino da história da música e da Educação Musical em Portugal foram discutidos a partir de desenvolvimentos já ocorridos no Brasil. Isso disse respeito sobretudo a projetos relativos à introdução da Educação Artística e da licenciatura, uma vez que já se contava aqui com a experiência brasileira.


Por ocasião da criação do Departamento de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa pela Dra. Maria Augusta Alves Barbosa, realizou-se, em 1981, um encontro em Lisboa para a discussão do prosseguimento das cooperações. O projeto era basicamente o de institucionalizar uma área musicológica adequada ao espaço de língua portuguesa através da concepção desenvolvida nos anos anteriores de uma pesquisa musicológica de orientação teórico-cultural.


Fundamentalmente de cunho interdisciplinar, as Ciências Musicais assim compreendidas deveriam englobar uma história da música que superasse as centralizações européias  - em particular na França e na Alemanha - e as delimitações continentais até então vigentes através de um direcionamento da atenção a processos. Procedendo-se contra a imagem de que a musicologia seria um campo para instrumentistas que não conseguiram sucesso como artistas, defendia-se a formação especificamente científica de musicólogos, pressupondo-se evidentemente formação musical. Do ponto de vista etnomusicológico, procurar-se-ia também uma renovação da área a partir dessa orientação dirigida a processos históricos, relacionando a pesquisa de fontes e discussão historiográfica - em particular daquela da expansão portuguesa - aos resultados da pesquisa empírica a partir do presente.


Desenvolvimentos insatisfatórios no novo departamento que impediam a realização de intentos que tinham levado à instituição da área das Ciências Musicais foram importantes fatores que justificaram a decisão de institucionalização na Europa do Centro de Pesquisas em Musicologia criado no Brasil, em 1968, na forma de um instituto de estudos da cultura musical no espaço de língua portuguesa (I.S.M.P.S.). Esse intento foi efetivado em 1985, declarado ano Ano Europeu da Música por instâncias da Comunidade Européia.


Como presidente de honra do instituto por Portugal, a Profa. Dra. Maria Augusta Alves Barbosa garantia a continuidade da corrente do desenvolvimento do pensamento e dos intentos de institucionalização de uma musicologia adequada teórico-culturalmente ao mundo cultural marcado pelos portugueses. Nesse sentido, decidiu-se que os trabalhos do instituto seriam pautados pela série de comemorações de 500 anos de viagens de descobrimentos e primeiros contatos de portugueses com regiões extra-européias que se processou até o início do século XXI.


Da parte do I.S.M.P.S., continuou-se a acompanhar as atividades do Departamento criado na Universidade Nova de Lisboa e nele representar os intuitos musicológicos de orientação teórico-cultural. Aceitou-se, assim, convites para a participação em bancas de doutorado e em cursos para pós-graduados.


Convidou-se, por sua vez, o Prof. Dr. Gerhard Doderer desse departamento para participar em eventos realizados pela A.B.E. e o I.S.M.P.S. no Brasil, em Portugal e na Alemanha.


Este foi o caso de colóquio dedicado a questões músico-antropológicas nas suas relações com a historiografia dos Descobrimentos levado a efeito pelo Ano Vasco da Gama em 1998 em várias cidades de São Paulo e na sessão portuguesa do programa de atividades do I.S.M.P.S. realizado em Macau e Hongkong pela passagem desses territórios à China nesse mesmo ano.


No âmbito do IV Simpósio Internacional „Música Sacra e Culturaa Brasileira“ pela abertura das comemorações dos 500 anos do Brasil levado a efeito em Maria Laach, em 1999, Gerhard Doderer ofereceu um recital de obras portuguesas para órgão. No âmbito do Congresso Internacional „Música e Visões“ concomitantemente realizado, o musicólogo proferiu uma palestra na Aula da Universidade de Colonia.




 
Doderer, R.Fernandes e Bispo, Rio 1992. Arq. A.B.E.


Doderer, Maria Laach 1999. Arq. A.B.E.