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BRASIL-EUROPA
PROCESSOS CULTURAIS EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

 
 
Bruxelas. Foto A.A.Bispo 2015. Arq. A.B.E.

Museu Real da África Central de Tervuren


O Museu Real da África Central em Tervuren, Bélgica, desempenhou em diversas ocasiões papel significativo nos trabalhos euro-brasileiros iniciados na Europa em 1974.


A primeira visita, realizada com pesquisadores do Institut für Völkerkunde e de Etnomusicologia do Musikwissenschaftliches Institut da Universidade de Colonia em 1976, teve como objetivo sobretudo o da consideração da história colonial nas suas relações com a arquitetura de museus e exposições para a difusão de conhecimentos, um tema de significado e atualidade para o mundo de língua portuguesa.


Exposições coloniais em Portugal foram aqui comparadas com aquela que foi uma das maiores expressões da museologia colonial e etnográfica do passado, servindo de modêlo a outras.


O museu, fundado em 1897 em Palácio Colonial por ocasião da Exposição Mundial Internacional em Bruxelas, serviu tanto para fins econômicos coloniais como para a exposição etnográfica e de animais do Congo, tendo-se levantado no seu parque museu vivo de povoados congoleses. Com o término da Exposição, o museu passou a ter o seu escopo na conservação das coleções, na condução de estudos e na difusão de conhecimentos.


Em 1901, Leopoldo II deu início a projeto de construção um complexo palaciano constituido por um museu dedicado à Africa, pavilhões chineses e japoneses, uma „escola mundial“, um centro de congressos e outras edificações no parque.


Com a mudança política da presença belga no Congo, o rei Albert I criou o Museu do Congo Belga, em 1910. Com a independência do Congo, o museu passou a ser, em 1960, Museu Real da África Central. Apesar dessa designação, os materiais ali conservados ultrapassam a esfera dessa país africano, representando um dos mais importantes centros museológicos e de pesquisa da África em geral.


A visita à coleção de instrumentos do Museu realizou-se à luz das concepções de reorientação da organologia segundo o programa brasileiro em desenvolvimento e que tinha tido o seu início europeu no Museu de Instrumentos de Berlim, no início de 1975.


Se em Berlim as preocupações tinham sido mais gerais e fundamentais, em Tervuren foram dirigidas aos sentidos culturais ou simbólicos dos instrumentos musicais africanos e à função dos instrumentos no edifício cultural, sendo que as reflexões partiram aqui dos instrumentos de origem africana ou associados com atributos africanos conhecidos do Brasil.


Esses estudos decorreram no âmbito de colóquio de etnomusicólogos sob a direção do Prof. Dr. Robert Günther da Universidade de Colonia, especialista sobretudo em estudos da Ruanda. Desde então estabeleceram-se contatos com Jos Gansemans, que desempenhou papel significativo nos trabalhos posteriores concernentes à África levados a efeito na Alemanha.


Angola-Brasil 1989. Foto A.A.Bispo. Arq. A.B.E.
A sua principal atuação deu-se por ocasião do simpósio etnomusicológico no âmbito do Congresso Internacional de Música Sacra levao a efeito em Bonn e em Colonia, em 1979, e no qual vários brasileiros estiveram presentes. A sua orientação foi decisiva à organização temática do evento, que manifestou concepções da pesquisa desenvolvida em Tervuren.


Da parte brasileira, tratou-se de realizar um levantamento da situação dos conhecimentos tanto em instituições especializadas como a do Museu de Tervuren, como naquela de publicações missionárias africanas.


Contou-se, aqui, com o auxílio de embaixadas, em particular a do Zaire em Bonn, assim como de bibliotecas e arquivos missiológicos, em particular aquele dos missionários de Steyl em St. Augustin/Bonn.


Um dos objetivos foi o de considerar, na problemática de concepções coloniais e missionárias, tendências do pensamento africano relativas à cultura, comparando-as com concepções da pesquisa de expressões africanas no Brasil, afro-brasileiras ou afro-americanas em geral.


Entre outros temas, considerou-se em particular conceitos de Africanidade, Négritude e Autenticidade. Esses estudos, conduzidos da perspectiva do Brasil à luz de uma orientação dirigida a processos, foram publicados de forma condensada, servindo de base às discussões do congresso.


O Museu de Tervuren foi visitado por pesquisadores voltados a estudos musicológicos de orientação cultural em outras ocasiões, marcando não só o tratamento de questões relativas à pesquisa cultural de relações africano-brasileiras como também dos estudos coloniais e do colonialismo em geral.


 
Bruxelas. Foto A.A.Bispo 2015. Arq. A.B.E.


Bruxelas. Foto A.A.Bispo 2015. Arq. A.B.E.


Bruxelas. Foto A.A.Bispo 2015. Arq. A.B.E.


Bruxelas. Foto A.A.Bispo 2015. Arq. A.B.E.