BRASIL-EUROPA
PROCESSOS CULTURAIS EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

 
 
Lueneburg. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.

Johannes Kantorei zu Lüneburg


Um dos complexos temáticos que marcaram as preocupações do programa euro-brasileiro de interações iniciado na Europa em 1974 com o apoio do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico disse respeito à música religiosa evangélica.


A música nas igrejas protestantes no Brasil, a sua história e o seu presente, em particular o estudo da prática organística e da hinologia era insuficientemente considerada na história da música e praticamente ignorada nos estudos de folclore.


Como em outras situações que passaram a ser sentidas como deficitárias, reconheceu-se que também a pouca consideração da história e do presente da vida religiosa nascida da Reformação no Brasil era devida a problemas teóricos nas suas consequências historiográficas.


A superação de categorizações de esferas culturais e de concepções nacionalistas e da restauração católica do passado através de um direcionamento da atenção a processos abriu novas perspectivas para o tratamento adequado de contextos culturais marcados pelo protestantismo.


Sendo o patrimônio musical do Brasil sobretudo constituido por obras criadas para as igrejas católicas e por expressões festivas tradicionais do Catolicismo, a consideração adequada do repertório e dos desenvolvimentos evangélicos, com os seus elos com centro-europeus e norte-americanos, exigia novos sistemas referenciais.


A pesquisa da história da música evangélica no Brasil - cujas bases foram lançadas sobretudo por Henriqueta Rosa Fernandes Braga - exigia ser inserida no contexto mais amplo de uma musicologia histórica em contextos globais e de orientação dirigida a processos culturais.


Em estreito relacionamento com essa problemática encontrava-se aquele do movimento Bach e da música antiga em geral, tradicionalmente representado pela Sociedade Bach de São Paulo e que vivenciava uma atualização através da prática de instrumentos musicais antigos. Esses desenvolvimentos passaram a ser considerados no âmbito do Centro de Pesquisas em Musicologia da Sociedade Nova Difusão, criada em 1968.


Significativamente, o concerto de abertura dessa sociedade esteve sob a regência de Luís Roberto Borges, personalidade que fundaria a Sociedade Pró-Música Sacra de São Paulo que, embora aberta a todas as confissões, inseria-se antes em desenvolvimentos do protestantismo.


Com o início do programa de interações na Europa, essas questões passsaram a ser tratadas em círculos representativos dos estudos, da prática e do ensino musical da Igreja Evangélica do norte da Alemanha, centralizadas na Johannes Kantorei de Lüneburg.


Principal personalidade nesses diálogos e cooperações foi o organista, regente e professor Volker Gwinner, professor da Escola Superior de Música de Hannover e responsável pela Kantorei da igreja St. Johannis da „cidade-Bach“ de Lüneburg, um dos principais centros do cultivo da música de círculos evangélicos da Alemanha.


Esses encontros lançaram as bases para o tratamento de questões relativamente à música sacra evangélica no contexto das relações Europa-Brasil dos anos que se seguiram. Estes tiveram a sua expressão em sessões do Simpósio Internacional Música Sacra e Cultura Brasileira, em particular naqueles dedicados ao órgão e a cantos comunitários. Os encontros em Lüneburg, Celle e Hannover ançaram as bases sobretudo para o desenvolvimento dos estudos hinológicos de orientação cultural paralelamente àqueles desenvolvidos na esfera católica no Institut für hymnologische und musikethnologische Studien da organização pontifícia de música sacra.


Forneceram as bases para a intensa participação de pesquisadores culturais e de música evangélicos nos congressos brasileiros de musicologia emn 1987 e 1992. Esse desenvolvimento teve o seu ponto máximo no simpósio ecumênico de hinologia por ocasião do encerramento do triênio de estudos pelos 500 anos do Brasil em sessões na Faculdade de Teologia da Igreja Luterana em São Leopoldo (RS).



 
Lueneburg. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.

Lueneburg. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.

Lueneburg. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.