BRASIL-EUROPA
PROCESSOS CULTURAIS EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

 
 
Kassel 1976. Foto A.A.Bispo. Arquivo A.B.E.

Kasseler Musiktage


No âmbito do programa de interações para a renovação de perspectivas e práticas culturais preparado no Brasil e iniciado na Europa em 1974, visitou-se em 1976/77 o Kasseler Musiktage.


Kassel 1976. Foto A.A.Bispo. Arquivo A.B.E.
A procura de contatos com protagonistas e participantes desse evento foi motivada pela história de décadas de relações de personalidades de Kassel com brasileiros, em particular com Martin Braunwieser. Foi por sua recomendação que procurou-se observar a situação de movimentos voltados à prática da música doméstica e do movimento de canto popular e comunitário na Alemanha que eram tão vinculados com o passado das jornadas de música de Kassel.


Os intentos renovadores de perspectivas e práticas através do direcionamento da atenção a processos tinham implicações quanto ao ensino musical e à difusão cultural e musical - como expresso na própria designação da sociedade Nova Difusão - e para isso surgia como um dos escopos do programa o estabelecimento de contatos com correspondentes círculos e personalidades alemãs também empenhadas na procura de novos caminhos.


Kassel 1976. Foto A.A.Bispo. Arquivo A.B.E.
As jornadas de Kassel tinham adquirido renome pela orientação programática que adquirira nos anos precedentes, o que favorecia reflexões sobre inserções da prática musical e editorial em processos culturais.



Revalorização do século XIX e prática doméstica da música


Como a orientação seguida do programa tinha dirigido a atenção no Brasil a fenômenos até então pouco considerados, marginalizados ou submersos da cultura, em particular daquelas relativas ao século XIX, desvalorizados por categorizações de esferas culturais, revelou-se como particularmente produtivo o contato com conferencistas de simpósios realizados no âmbito dos Kasseler Musiktage.


Um papel de particular significado desempenhou aqui Carl Dahlhaus, cujas posições foram consideradas nos seus aspectos afins - e nas suas diferenças - com aqueles do programa de interações internacionais em desenvolvimento.


Kassel 1976. Foto A.A.Bispo. Arquivo A.B.E.
Projetos Monumenta Musicae Brasiliae e Cancioneiro Brasileiro


No contexto dos trabalhos desenvolvidos com Francisco Curt Lange e Cleofe Person de Mattos durante as suas visitas à Alemanha, desenvolveu-se projeto de edição de Monumenta Musicae Brasiliae, para o qual procurou-se possibilidades de sua edição em Kassel.


Esse projeto devia incluir - entre outras - as obras levantadas por Curt Lange do século XVIII e início do XIX, então conservadas em Montevideo, assim como aquelas do Pe. J. Maurício Nunes Garcia e compositores até então desvalorizados do século XIX.


Essa publicação, apoiada pela representação diplomática do Brasil, devia ser realizada segundo os mais elevados critérios editoriais. O projeto correspondia ao significado que o Prof. Dr. Karl-Gustav Fellerer dava à publicação de fontes para a institucionalização da Sociedade Brasileira de Musicologia. As obras publicadas deviam porém ser analisadas e comentadas em textos introdutórios segundo os critérios do programa desenvolvido no Brasil e iniciado internacionalmente em 1974, ou seja, nas suas inscrições em processos, entre outros do Colonialismo.


Para a consecução desse projeto, Francisco Curt Lange enviou por meios diplomáticos cópias de obras por êle restauradas. Por ocasião de Congresso Internacional realizado em Bonn e Colonia, em 1979, e sobretudo à época da criação da Sociedade Brasileira de Musicologia em 1981, pesquisadores de tradições populares presentes, em particular o Dr. José Geraldo de Souza, defenderam o plano de publicação concomitante de um Cancioneiro Brasileiro ou de coletânea de transcrições musicais de música transmitida pela tradição.


Os problemas metodológicos que resultavam dessa proposta, em particular referentes à problemática da adequação de transcrições, levou a discussões em diferentes ocasiões.


Para a consideração do material conservado no arquivo de Mariana no projeto da Monumenta, realizou-se, após o Simpósio Internacional Música Sacra e Cultura Brasileira, em 1981, um encontro de musicólogos, pesquisadores culturais e teólogos no Museu de Mariana.


Nessa ocasião, tratou-se da participação de entidades do Vaticano, em particular do Istituto Pontificio di Musica Sacra na edição da Monumenta de música brasileira, o que correspondia sob o plano prático à serie prevista da Collectanea Musicae Sacrae Brasiliensis.


Esse cooperação de entidades eclesiásticas surgia como relevante politico-culturalmente, uma vez que grande parte do patrimônio musical do passado brasileiro é constituido por obras criadas para o culto. O projeto da edição das obras conservadas em Mariana e São João del-Rey no âmbito de um projeto de Monumenta que não deveria abranger apenas os materiais ali conservados, foi tratado já na abertura do II Congresso Brasileiro de Musicologia, realizado no Rio de Janeiro em 1992.


Para tal nele tomou parte D. Luciano Mendes de Almeida, que então garantiu o seu apoio ao projeto. Infelizmente, outros pesquisadores aproveitaram-se desse trabalho de conscientização e sensibilização de décadas, levando a publicações que não correspondem aos intuitos de qualidade editorial e musicológica de orientação cultural do projeto legítimo.





 
Kassel 1976. Foto A.A.Bispo. Arquivo A.B.E.


Kassel 1976. Foto A.A.Bispo. Arquivo A.B.E.


Kassel 1976. Foto A.A.Bispo. Arquivo A.B.E.