BRASIL-EUROPA
PROCESSOS CULTURAIS EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

 
 
ABE na Sala do Indio/MHD, Itamaraty 2002. Arq. A.B.E.

Itamaraty - Museu de História Diplomática


Através de representantes diplomáticos do Brasil na Alemanha, o Ministério das Relações Exteriores tem concedido apoios e patrocínios a projetos e eventos euro-brasileiros conduzidos no âmbito do programa de interações preparado no Brasil e iniciado em 1974 na Europa com o apoio do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD).


O primeiro simpósio internacional idealizado como consequência do programa e realizado em São Paulo, em 1981, não podia ter sido realizado sem a anuência e o apoio do Ministério.


No âmbito desse evento, que contou com a presença de várias instituições e personalidades de diferentes países europeus e do Vaticano, realizou-se o primeiro encontro entre pesquisadores culturais, historiadores, folcloristas, artistas, músicos e musicólogos para a discussão de conceitos, perspectivas teóricas e metodologias propostas pelo programa.


A coletânea de artigos de pesquisadores brasileiros destinada a servir de ponto de partida aos debates, publicada no Vaticano, foi enviada ao Brasil com o auxílio do Ministério.


Pelo Centenário de Villa-Lobos, em 1987, as comemorações na Europa, conduzidas pelo I.S.M.P.S. a pedido da Embaixa do Brasil na Alemanha, puderam incluir concertos patrocinados pelo Ministério.


A consecução do projeto voltado ao saber relativo às culturas musicais indígenas e à inclusão de indígenas no debate cultural possibilitado pelo Auswärtiges Amt da Alemanha pela Conferência do Meio Ambiente no Rio de Janeiro, em 1992, teve como pressuposto a anuência do Ministério.


Iniciado oficialmente no Rio de Janeiro ano dos 500 anos da América, esse projeto representou a concretização de projeto idealizado no Centro de Pesquisas da Sociedade Nova Difusão, em 1968, e desenvolvido quando da introdução da área da Etnomusicologia nos estudos superiores de música e Educação Musical e Artística em São Paulo, em 1972.


O levantamento e a análise de fontes e de documentos em museus no Exterior foi realizado a partir de 1974, teve a sua continuidade no departamento de Etnomusicologia do instituto da organização pontifícia de música sacra, então sob direção brasileira e, desde 1985, no Instituto de Estudos da Cultura Musical do Espaço de Língua Portuguesa (ISMPS).


Consequentemente, a apresentação do volume que marcou dez anos desse projeto foi apresentado em sessão na Sala do Índio do Museu de História Diplomática do Itamaraty no Rio de Janeiro, em 2002.


Palacio Itamaraty, Rio 2002. Foto A.A.Bispo. Copyright

Essa sessão marcou o término do Triênio de eventos científico-culturais pelos 500 anos do Brasil iniciado no Congresso Internacional „Música e Visões“, levado a efeito em Colonia, em 1999.


A sessão no Museu de História Diplomática do Itamaraty tornou-se possível graças a S. E. o Embaixador Paulo Pires do Rio, Chefe do ERERIO, de S. E. o Embaixador João Hermes Pereira de Araújo, Diretor do Museu, assim como do Conselheiro Ricardo Joppert, Vice-Diretor da instituição.


Presentes estiveram não apenas vários dos colaboradores e assistentes do projeto, como também representantes de diversas instituições culturais, de universidades e instâncias eclesiásticas, entre estes o Abade do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro.


Sala do Indio, Itamaraty. Foto A.A.Bispo 2002. Copyright

Na sessão foram tratados, entre outros, os seguintes complexos temáticos:


  1. -Relações entre a História Diplomática e Estudos de Processos Culturais

  2. -Internacionalização da Pesquisa, Estudos da Ciência e Análise de Rêdes

  3. -Memória e Futuro - Indígenas nos Estudos Culturais em contextos internacionais

  4. -Ética nos procedimentos científicos e na cooperação internacional


Lembrados foram nos pronunciamentos alguns dos muitos nomes da história diplomática que se salientaram como intelectuais, estudiosos culturais, bibliófilos, artistas, músicos e compositores. Essas personalidades e suas atividades marcaram de forma decisiva relações culturais, a imagem do Brasil no Exterior e atuaram como mediadores culturais, representando e difundindo correntes de pensamento e de expressão não só na Europa como também no Brasil.


Lembrou-se os estudos realizados nesse sentido em 1976 em Bayreuth e que, partindo de proposta brasileira a R. Wagner, passaram a dedicar-se a vários outros vultos do século XIX e início do XX, entre outros a músicos como Brasílio Itiberê e Henrique Oswald ou a personalidades de formação universal, como M. de Oliveira Lima.


O desenvolvimento de estudos de processos culturais em relações internacionais não pode realizar-se sem aqueles da história diplomática. Reciprocamente, os estudos culturais oferecem parâmetros e abrem perspectivas para a consideração da atuação cultural de brasileiros em situações de representação no Exterior. A história diplomática passa a ser inserida em processos culturais.


Essas relações de reciprocidade entre a história diplomática e o estudo de processos culturais consideradas na sessão salientaram o significado da internacionalização da pesquisa em cooperações interdisciplinares.


Essa internacionalização, escopo do programa de interações preparado no Brasil e iniciado na Europa em 1974, entrou com essa sessão em nova fase de intensificação no novo século.


Considerando-se os resultados de reflexões precedentes - e como expresso no escopo da A.B.E., os estudos culturais não podem deixar de ser conduzidos em estreito relacionamento com aqueles da própria ciência, em particular da inserção dos pensadores, pesquisadores e representantes culturais em processos culturais em auto-reflexões e análise de rêdes.


O espaço sugestivo da Sala do Índio do Palácio Itamaraty foi escolhido por corresponder ao tema central tratado na sessão: o da presença indígena no passado, no presente e no futuro dos estudos de processos culturais.


Na sessão, lembrou-se do estado deficitário dos conhecimentos, da absoluta necessidade de justiça histórica, de conscientização dos procedimentos desumanos e indignos ocorridos na história colonial, da percepção e análise de posições detrimentes na literatura do passado e da necessária valorização das culturas indígenas como importante parte do patrimônio cultural do Brasil.


O tratamento adequado das culturas indígenas apenas podem ser conduzidos em dimensões internacionais, pois superam fronteiras nacionais.


As mudanças ocorridas na história colonial nos diversos países inserem-se em processos de expansão européia e de ocupação do continente. Esses processos devem ser alvo de estudos culturais em contextos globais, como preconizados pela A.B.E., e nessas reflexões devem ser integrados representantes do universo indígena, não mais como objetos de estudos etnólogicos, mas como participantes de desenvolvimentos do pensamento e dos conhecimentos em processos de produção do saber.

À memória de Cleofe Person de Mattos, personalidade exemplar na pesquisa histórico-musical do Brasil pelo seu empenho de valorização da obra e da personalidade do Pe. José Maurício Nunes Garcia, tratou-se do significado do caráter e de procedimentos éticos nos estudos culturais em contextos internacionais.


Os problemas apontados por muitos lados nas cooperações e intercâmbios não se limitam a plágios comprováveis, mas a apropriações sutís de temas e perfis de pesquisadores e instituições, a competições e estrategias de supremacia e poder que são indígnas daqueles que se dedicam a questões culturais e filosóficas.


Atitudes e comportamentos contradizem critérios básicos de educação, polidez e, sobretudo, de caráter. Reflexões relativamente ao cultivo de caráter, integridade e valores humanos de convívio deveriam fazer parte da formação universitária, de estudos da própria ciência e análise de rêdes.


As reflexões encetadas ofereceram diretrizes para os trabalhos da A.B.E. desde então desenvolvidos. As reflexões tiveram continuidade em seminários de universidades européias e em eventos realizados no Brasil, em particular no Colóquio Internacional de Estudos Interculturais levado a efeito em São Paulo e no Rio de Janeiro pelos 450 Anos de São Paulo, em 2004.