Istambul. Foto A.A.Bispo. Copyright. Arquivo A.B.E.
Os trabalhos da Academia Brasil-Europa relacionados com a Turquia remontam, nos seus fundamentos, à própria tradição a que se filia a instituição. A Turquia foi exílio temporário de membros de um círculo de estudiosos e artistas teuto-russos que se dedicavam a estudos das relações entre o Ocidente e o Oriente à época da Revolução russa de 1917. Dali, um deles emigrou diretamente ao Brasil, outra dirigiu-se à Europa Central para fins de estudos. A renovação do círculo em Salzburg, em 1919, agora tendo já o Brasil como motivo condutor dos pensamentos, decorreu em época de fascínio pela antiga cultura do Oriente.


Durante os anos de atuação desse grupo na Grécia, um de seus membros, Martin Braunwieser, realizou estudos da música tradicional turca, procurando ganhar das análises elementos que servissem à renovação da linguagem musical. Um dos resultados dessas pesquisas levou à composição, já agora no Brasil, em fins da década de 20, de uma coleção de melodias infantís turcas para o uso no ensino de piano no Brasil. Essa obra reflete uma concepção estética, do mundo e do homem que apenas pode ser compreendida sob o pano de fundo do já então antigo ideário de uma renovação do Ocidente a partir de concepções do Oriente, agora porém reinterpretado a partir de perspectivas centro-européias e que refletiam um interesse pelas tradições populares do Sul da Europa e imagens de um desenvolvimento interior do homem de cunho filosófico-antroposófico.


Essa composição, apresentada e comentada pela primeira vez após muitas décadas em recital realizado em 1970 pela sociedade que hoje constitui a Organização Brasil-Europa, serviu para a revitalização de interesses em questões que relacionam a Turquia e o Brasil. Nessa época, porém, a atenção foi dirigida ao estudo de processos de difusão cultural, objeto do movimento renovador dos estudos culturais então iniciado. Sob o aspecto mais especificamente etnomusicológico, realizaram-se pela primeira vez no Brasil aulas dedicadas à cultura musical turca no âmbito do então introduzido curso de Etnomusicologia da Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo.


Istambul. Foto A.A.Bispo. Copyright. Arquivo A.B.E.
Na Europa, essa consideração etnomusicológica - a partir da perspectiva brasileira - foi continuada em meados da década de 70 no âmbito de seminários e encontros realizados na Universidade de Colonia. Em 1981, por ocasião do primeiro evento euro-brasileiro de estudos culturais, acompanhado por uma semana de música teuto-brasileira, executou-se mais uma vez a obra programática de Martin Braunwieser, pelos seus 80 anos, marcando assim o prosseguimento dos trabalhos.


Em 1985, por motivo do registro europeu do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS e.V.), realizou-se uma viagem de estudos e contatos à Turquia, visitando-se várias outras cidades. Em Izmir realizou-se um encontro na instituição de formação islâmica com o objetivo de estabelecimento de uma cooperação no estudo comparativo de práticas de canto do Corão com aquelas da tradição católica. Procurou-se, assim, retomar, sob aspectos teóricos atualizados, uma discussão já antiga no âmbito da Musicologia Comparada, dirigindo agora a atenção sobretudo a contextos culturais, a fundamentos teológicos e a princípios de interpretação hermenêutica. Paralelamente, desenvolveram-se observações de expressões culturais tradicionais em zonas rurais. O escopo dessas pesquisas foi o de constatar a permanência ou não de sentidos simbólicos de instrumentos e expressões para além de sua inserção em diferentes contextos religiosos.


Istambul. Foto A.A.Bispo. Copyright. Arquivo A.B.E.
A partir desses trabalhos, realizaram-se outras viagens de estudos à Turquia. Uma particular menção deve ser dada àquela efetuada a Instambul, em 2003, quando procurou-se atualizar os questionamentos em função da discussão da integração ou não da Turquia na comunidade européia. Um dos aspectos aqui considerados foi o da recepção da música popular latinoamericana na Turquia, no passado e no presente. Essas observações in loco e os documentos levantados serviram a seguir a seminário dedicado ao tema Imigração e Estética, no qual a Turquia foi especialmente considerada. Os trabalhos foram desenvolvidos também em cooperação com o Centro de Estudos da Imigração Turca na Europa, institucionalizado na cidade alemã de Colonia.




Materiais
Apenas os disponíveis nos sites da A.B.E.

(em elaboração)

  1. „Mouros X Cristãos“. O sultanato islâmico Aceh da Sumatra em guerras contra Malaca e os turcos à luz de desenvolvimentos atuais na Europa, na Turquia e na Indonésia. Relendo uma carta e S. Francisco Xavier S.J. (1506-1552)

  2. O húngaro Henri/Henry Ketten (1848-1883) e Henri/Henry Oswald (1852-1931) sob o signo de Hans von Bülow (1830-1894) em contextos internacionais do virtuosismo pianístico do século XIX - Paris como referencial

  3. A Turquia e as relações Alemanha/Brasil. Salve S. Jorge! O fascínio de brasileiros pela Capadócia e a atualidade de imagens nas lutas pela liberdade de uma cultura do Esclarecimento. Ano Brasil/Alemanha 2013 da A.B.E. (III)

  4. A Capadocia na investigação eurobrasileira de fundamentos comuns de imagens em edifício cultural supranacional, interreligioso e transepocal orientado segundo a luz e o espírito

  5. S. Jorge e o seu cavalo branco na "igreja das serpentes" da terra dos belos cavalos

  6. S. Teodoro Tiro e Teodoro Stratelates, recruta e general, "ferreiro" e guerreiro

  7. Sta. Bárbara nas trevas do mundo subterrâneo das covas da Capadócia

  8. São Jorge e o Báltico nas relações Alemanha/Brasil (Projeto Âmbar). O combate ao dragão do pomerano Bernd Notke na igreja real de S. Nicolau de Estocolmo como monumento do paradigma do combate iluminado às ameaças à liberdade

  9. Konya como centro da mística islâmica e Ikonyon dos Atos dos Apóstolos. S. Paulo e S. Barnabé, Mercúrio e Júpiter em processos cristianizadores em contextos culturais judaicos e helênicos da Ásia Menor

  10. Rosas da Turquia e rosas do Brasil. A flor do Amor na mística islâmica e na tradição cristã do Ocidente nas suas implicações globais. Reflexões interculturais pela Primeira Exposição de Rosas no Parque do Castelo de Moers, Alemanha

  11. O que há de embaraçante e surpreendente em girar e iniciar o semah com batidas do kudüm e def? Nós somos irmãos do amor e orgulhosos do ritual Mevlana. Estudos interculturais da mística e pesquisa (etno-)musicológica

  12. Que tipo de Ser há dentro da flauta que transforma o sôpro em fogo aniquilador? O ney e o mentor plenamente desenvolvido na tradição Mevlevi e suas repercussões no ensino no Brasil

  13. O girar (Semazen) na ascensão mistica (Miraç) à Perfeição (Kemal). Interpretações dos irmãos em amor de Dervis Evi sob o pano de fundo de tradições místicas conhecidas no Brasil

  14. O amar o Belo Supremo do Amado no amado - A Porta de Adriano em Antalya e o amor de Antinoos

  15. Música de banda e ópera italiana sob Giuseppe Donizetti Paşa (1788-1856) na europeização da Turquia em recepção centro-européia e em paralelos com o Brasil

  16. A França como modêlo e como mediadora de relações musicais na Turquia e no Brasil: Cemal Reşit Rey (1904-1985), Yekta Teksel (*1912) e João de Souza Lima (1898-1982)

  17. Alemães na vida musical do Império Osmano e a emigração de "alemães do Bósporo" ao Novo Mundo: Paul Lange (1857-1919), Hans Lange (1884-1960) e Guiomar Novaes (1895-1979)

  18. Turcos no mundo de língua alemã e alemães na Turquia após a Reforma de Mustafa Kemal Atatürk (1881-1938). Necil Kâzim Akses (1908-1999) e as "Melodias Turcas" de Martin Braunwieser (1901-1991)

  19. De militar em guerras balcânicas e inspetor de ferrovia em Constantinopla a professor e pastor em colonias alemãs no Rio Grande do Sul. Experiências na luta pela sobrevivência de Hans von Hattorf (Bielefeld) no seu significado para estudos internacionais de processos culturais em meios sociais desfavorecidos

  20. Expansão alemã "ao interior" nas suas relações com a política colonial e seu significado para os estudos de colonização alemã no Brasil. A Estrada de Ferro de Bagdad e suas estações como nódulos de projetada rêde cultural

  21. Centro de documentação de migrantes turcos na Europa

  22. Dimitrie Cantemir (1673-1723): geógrafo e musicólogo entre a Europa, Turquia e Rússia: sua atualidade nos estudos interdisciplinares de processos culturais. Pelos 110 anos de nascimento e 20 de morte de Martin Braunwieser (1901-1991)

  23. O cerco de Constantinopla do ano de 626 nas paredes das igrejas da Bucovina e as lutas de cristãos e mouros na tradição brasileira








 














Istambul.
Arquivo da A.B.E.
Fotos A.A.Bispo ©


 

BRASIL-EUROPA
www.brasil-europa.eu

Organização de estudos de processos culturais em relações internacionais (registrada 1968)
Academia Brasil-Europa

Direção: Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo

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