La Valetta. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.
La Valetta. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.
Os trabalhos da Academia Brasil-Europa relacionados com Malta tiveram o seu início em 1968 quando da fundação da sociedade que hoje constitui a Organização Brasil-Europa de estudos de processos interculturais. Com o objetivo de desenvolvimento de pesquisas relacionadas com a imigração italiana no Brasil, em particular em São Paulo, tendo-se em vista exames processos de difusão cultural, constatou-se a existência de partituras de compositores malteses em arquivos de sociedades italianas e ítalo-brasileiras.


Pesquisas mais aprofundadas demonstraram vínculos mais estreitos com músicos malteses na vida musical brasileira do passado. Constatou-se que esses elos não foram superficiais, mas inseridos em contextos culturais que não podiam ser analisados sem considerações mais pormenorizadas da história política e político-cultural da primeira metade do século XIX na Europa, em particular na Itália e nas suas repercussões no Brasil.


Na Europa, as primeiras tentativas de uma cooperação mais intensa com estudiosos malteses foram feitas na segunda metade da década de 70. Disseram respeito sobretudo à música sacra, tratadas em encontros realizados por ocasião de assembléias e congressos.


La Valetta. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.
Uma vez que a reforma da música sacra - e da liturgia - desempenhou papel relevante na atividade de mestres-capela, compositores e teólogos de Malta, fato favorecido pelas estreitas relações de proximidade com Roma, foram estabelecidos paralelos com a história da reforma sacro-musical no Brasil.


Procurou-se examinar também se as consequências dessa reforma para a cultura musical de Malta teriam sido tão profundas como aquelas constatadas no Brasil. Esse complexo temático foi tratado no Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira", levado a efeito em São Paulo, em 1981.


No desenvolvimento dos trabalhos que prepararam a fundação do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS e.V.), institucionalizando na Europa o centro de pesquisas fundado em São Paulo em 1968, realizaram-se levantamentos de fontes e dados que demonstraram a necessidade de estudos mais profundos dos elos entre Malta e a esfera de língua portuguêsa, inserindo-os no complexo do Mediterrâneo, na história antiga e medieval, aqui sobretudo no estudo das  ordens religiosas e no confronto entre o Ocidente cristão e o mundo islâmico.


O significado de Malta para os estudos do Mediterrâneo foram salientados durante sessões realizadas com Luís Heitor Corrêa de Azevedo, procurando dar aqui prosseguimento a debates e eventos já realizados na área dos estudos culturais, agora sob a perspectiva euro-brasileira.
La Valetta. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.


Malta. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.
Paralelamente ao Congresso Internacional de Música Sacra realizado em Roma, em 1985, houve novo encontro de pesquisadores brasileiros, portuguêses e malteses. Nessa ocasião, planejou-se a realização de trabalhos em Malta, quando então deveriam ser desenvolvidas pesquisas nas instituições locais e observações de campo.


Nessa oportunidade, realizaram-se estudos na Biblioteca Nacional em La Valetta, no arquivo da Catedral, desenvolvendo-se também trabalhos em outras localidades do país. Tratando-se do ano comemorativo de Carlos Gomes, deu-se especial atenção à recepção de Il Guarany em La Valetta.


No âmbito desses trabalhos, constatou-se a existência, no passado, de uma rêde de contatos humanos e artísticos não só com a Itália mas também com o Norte da África, em particular com Tunis. Por essa razão, projetou-se uma viagem de estudos à Tunísia, efetuada alguns anos mais tarde.


O significado da Ordem de Malta na história cultural em contextos globais do passado foi salientado nessa ocasião e retomado em várias outras oportunidades, relacionando-o com estudos efetuados em outras localidades e países, por exemplo em Rhodos. Foi um dos complexos temáticos mais considerados pela Academia Brasil-Europa nas últimas décadas pelo seu significado para o seu programa de estudos Oriente-Ocidente e, sobretudo, para o estudo de ordenações imagológicas relacionadas com o conflito entre cristãos e "mouros", presente nas expressões culturais tradicionais do Brasil.
La Valetta. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.


Malta. Foto A.A.Bispo 2014. Arquivo A.B.E.
Outro aspecto que tem merecido particular atenção diz respeito aos elos entre Malta e a esfera britânica. Essa inserção surge de especial interesse para estudos interculturais em contextos globais, pois representa sob certos aspectos um aumento de complexidade das relações de Malta com outros contextos, considerando que esse país situa-se no Mediterrâneo, entre a Europa e o Norte da África, é ligado por estreitos laços culturais à Itália, por vínculos históricos à Península Ibérica e inseriu-se por séculos nas rotas da Ásia Menor. Nos estudos concernentes às relações entre a Grã-Bretanha e o mundo de língua portuguêsa, a presença britânica no Mediterrâneo não pode deixar de ser considerada.

Talvez o complexo de questões que tem levado a reflexões teórico-culturais mais profundos diz respeito às expressões mitológicas da Antiguidade relacionadas com Malta e, sobretudo, ao apóstolo Paulo e à tradição de sua presença na ilha.


O estudo das concepções paulinas tem-se relevado como de fundamental significado para a compreensão de expressões culturais de natureza simbólica, o que foi salientado e discutido em vários eventos da A.B.E., em particular no colóquio internacional de Antropologia Simbólica, levado a efeito em São Paulo, em 1998.


A mais recente visita de estudos a Malta deu-se em 2014. As reflexões foram conduzidas aqui sobretudo sob a perspectiva das relações entre a cultura e o meio ambiente no sentido do projeto Cultura/Natureza da A.B.E.. Visitou-se, entre outros locais de significado paisagístico-cultural, o jardim de Santo Antonio do palácio da Presidência de Malta. Os trabalhos dedicados à atualização de conhecimentos e ao prosseguimento dos estudos realizados anteriormente levaram a novas considerações do contexto em que se situou a antiga Ópera Real onde encenou-se o Il Guarany de A. Carlos Gomes e ao Teatro Manoel. Os elos com Portugal nas suas referências à linguagem de imagens representada na dedicação da capela à língua de Castela na igreja de São João foram particularmente considerados, sobretudo sob a perspectiva de concepções joanitas do passado e que vivem ainda em tradições brasileiras. Em Mdina, tratou-se sobretudo de elos entre a história militar maltesa e a França Antarctique no Brasil do século XVI.






 


Fotos A.A.Bispo 2014 Arquivo A.B.E.©

 

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Organização de estudos de processos culturais em relações internacionais (registrada 1968)
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Direção: Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo

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