Os trabalhos da Academia Brasil-Europa relacionados com a Hungria inserem-se em tradição que remonta às suas origens européias no início do século XX. Os estudiosos e artistas que constituiram o grupo formado em Salzburgo, em 1919, e que em parte emigrariam posteriormente para o Brasil, haviam tido a sua formação quando a cidade ainda pertencia ao antigo Império Áustro-Húngaro.

Um dos mentores do grupo, Bernhard Paumgartner (1887-1971), atuara juntamente com Béla Bártok (1881-1941) na coleta de canções folclóricas junto a soldados da Dupla Monarquia.

Os problemas das nacionalidades, da consciência nacional, da necessidade de pesquisas das tradições populares e do desenvolvimento de uma pedagogia adequada culturalmente eram conhecidos e discutidos nesse grupo voltado à renovação da cultura musical européia. Similares intuitos de levantamento e análise de expressões populares para o desenvolvimento músico-pedagógico e criação de um repertório infanto-juvenil apropriado e correspondente às tendências então atuais das reflexões culturais marcou também a obra e a atuação de Martin Braunwieser (1901-1991), mentor da A.B.E.

Quando da fundação da entidade que hoje constitui a organização Brasil--Europa de estudos teóricos de processos interculturais, em 1968, após vários anos de preparativos, a obra de Béla Bártok ofereceu impulsos para reflexões dirigidas a processos difusivos nos seus vínculos com os estudos culturais e com a pedagogia.

Nos trabalhos de renovação teórica dos cursos de Folclore e de Formação de Professores de Iniciação Musical no âmbito do Centro de Estudos em Musicologia da sociedade Nova Difusão, a partir de 1970, e na fase de implantação da disciplina Etnomusicologia em cursos superiores de Licenciatura em Música e Educação Artística, em 1972, Béla Bártok e Zoltán Kodály (1882-1967) foram particularmente considerados em concertos-conferências e aulas.

Esses trabalhos tiveram prosseguimento nos anos de implantação da entidade na Europa. Em 1981, comemorou-se o centenário de Béla Bártok no âmbito do movimento músico-pedagógico orientado teórico-culturalmente segundo critérios da Pedagogia Comparativa ou Intercultural baseado nos trabalhos desenvolvidos no Brasil.

Essa comemoração, inserida no Forum de estudos culturais da organização Brasil-Europa, foi realizada conjuntamente com a dos 80 anos de Martin Braunwieser e dirigida a questões da recepção da obra de Béla Bártok no Brasil e a desenvolvimentos paralelos na história cultural da Hungria e do Brasil. Seguiu-uma viagem de contatos e estudos a várias cidades da Hungria, visitando-se o Museu Béla Bártok.

A cooperação com o antropólogo húngaro Desidério Aytai, estabelecido no Brasil, onde atuou como professor universitário, foi decisiva para os trabalhos relacionados com as culturas musicais dos indígenas no Brasil. Em vários encontros realizados no Brasil, Desidério Aytai orientou trabalhos desenvolvidos com vários grupos indígenas. As suas obras foram consideradas em conferências, seminários e cursos da Academia Brasil-Europa realizados na Europa. A organização promoveu a tradução para o alemão de vários de seus estudos.

Um dos aspectos considerados da história das idéias político-culturais relacionadas com a Hungria disse respeito às rêdes representadas pelas casas reinantes no período anterior à Primeira Guerra Mundial e o da difusão de concepções ideológicas à época do Nacional-socialismo nos seus paralelos com a sua propagação em meios alemães no Brasil.

Em 2013 realizou-se um amplo ciclo de estudos eurobrasileiros em Budapest. Questões de análise cultural da metrópole no âmbito de estudos de urbanística de orientação teórico-cultural estiveram no centro das atenções. Uma especial consideração foi dada ao teatro de ópera de Budapest nas suas relações com a arquitetura teatral do antigo império dos Habsburgos e no campo de tensões de anelos nacionais na ópera por ocasião do feriado nacional húngaro. Paralelamente, realizou-se uma visita ao Museu de História da Música por ocasião das exposições "Bela Bártok Folclorista" e "Instrumentos Musicais da Hungria", discutindo-se questões de pesquisa musical de tradições populares e organológicas à luz dos trabalhos eurobrasileiros desenvolvidos nas últimas decadas pelo ISMPS e pela ABE.