Bulgaria. Foto A.A.Bispo 2014. Copyright A.B.E.
Os estudos culturais relacionados com a Bulgária tiveram o seu início na década de 70 no âmbito da disciplina Etnomusicologia da Faculdade de Música do Instituto Musical de São Paulo a partir de gravações e publicações de música tradicional búlgara. Motivo de particular consideração foram de início os instrumentos musicais, procurando-se reconhecer similaridades e diferenças com aqueles de outros contextos europeus, asiáticos e brasileiros. Exemplos de música búlgara serviram como significativos objetos de exercícios de transcrição e análise na disciplina Estruturação Musical sobretudo devido à sua complexidade rítmica e métrica.


De acordo com a orientação fundamentalmente voltada ao estudo de processos culturais - como preconizada pela sociedade Nova Difusão fundada em 1968 - a atenção, embora partindo da música - passou a ser dirigida à inserção de práticas musicais e de dança em festividades, cortejos e expressões lúdicas e religiosas, salientando-se aqui tradições relacionadas com o casamento e do culto a São Lázaro. Neste sentido, procurou-se caminhos para o entendimento do sentido dessas expressões a partir de expressões tradicionais brasileiras relacionadas com a veneração desse santo no Brasil.


Bulgaria. Foto A.A.Bispo 2014. Copyright A.B.E.
A consideração do folclore búlgaro orientou-se por um lado nas tendências então em discussão no âmbito do Museu de Folclore de São Paulo a respeito de uma redefinição do objeto da pesquisa e da própria disciplina segundo o critério da espontaneidade. A orientação segundo processos no intento de superação de categorizações do objeto - no caso da esfera qualificada como folclórica -, levou cada vez mais à procura de outras perspectivas para o tratamento da cultura búlgara.


Bulgaria. Foto A.A.Bispo 2014. Copyright A.B.E.
Nesse intento, tornou-se cada vez mais evidente a importância geo-histórica da atual Bulgária nos estudos de processos culturais de amplas dimensões que tiveram consequências também para o Brasil. Entre estes, consideraram-se aqueles relacionados com o encontro entre Ocidente e Oriente, entre o Cristianismo e o Islão. O fato da Bulgária ter pertencido ao Império Osmano até a segunda metade do século XIX, época marcada por crescente interesse por tradições populares e por suas remotas raízes em vários países, trouxe à consciência o significado da Bulgária para o estudo de concepções nacionais e nacionalistas nos estudos culturais e que parecem ainda manter a sua vigência em textos concernentes ao folclore búlgaro.


A lembrança do conceito de arqueocivilização que marcou estudos de folclore e tradições populares do século XIX e XX chamaram a atenção para a questão de sentidos de instrumentos, danças, cortejos e outras práticas culturais nas suas inserções em sistema cultural de remotas origens. Atualizando-se o conceito e as aproximações, reconheceu-se o significado dos estudos relacionados com a Bulgária para uma arqueologia da cultura.


Possuindo nas suas costas no Mar Negro colonias gregas, sobretudo a partir de Mileto, partiu-se da premissa que sob vários aspectos a Bulgária poderia oferecer chaves para os estudos da difusão da cultura helênica no decorrer de colonizações, tendo-se provavelmente mantido nas colonias correntes de pensamento, práticas e expressões de forma mais conservadora do que nas ilhas e cidades de origem.


Lembrando-se que a Trácia desempenhou papel importante na antiga geografia cultural e mitologia, a atual Bulgária passou a ser considerada sobretudo nos estudos relacionados com Orfeu. A análise sob diferentes enfoques do mito de Orfeu e da sua lira, cuja música possibilitou-lhe descer aos infernos, constituiu central motivo de preocupações nos estudos das relações entre Antiguidade e Cristianismo. Pelo fato de Orfeu ter sido relacionado com Cristo na linguagem das imagens das catacumbas pelos cristãos dos primeiros séculos, a sua figura marcou os estudos e as iniciativas conduzidas pelo departamento de Etnomusicologia do instituto de pesquisas da organização pontifícia de música sacra desde 1977. A sua imagem - e a da lira -, esteve presente em publicações dedicadas ao Brasil, tendo sido considerada já na sessão preparatória ao Simpósio Internacional Musica Sacra e Cultura Brasileira, de 1981. (Veja)


Relações entre a Bulgária à época de sua independência da soberania osmana e o Brasil foram considerados a partir do relato de vida de Hans von Hattorf, de Bielefeld/Alemanha, que, após ter participado das guerras balcânicas e trabalhado na Turquia, esteve na Argentina e no Brasil. (Veja)


À consideração das relações culturais entre a Bulgária e o Brasil no século XX muito contribuiu o diário da viagem de estudos botânico-zoológicos à América do Sul do Czar Ferdinando da Bulgária (1861-1948) de dezembro de 1927 a abril de 1928 em publicação de E. Roselius (E. Roselius, Der König Reist, Munique/Berlin 1929).


As cidades visitadas pelo soberano - Rio de Janeiro, Teresópolis, Salvador -, assim como as instituições brasileiras e as personalidades com quem entrou em contato foram objetos de estudos de contextos e rêdes. (Veja) Um significado que extrapola aquele histórico-cultural desses diários resulta do empenho do Czar Ferdinando pela proteção à natureza e à vida animal, em especial dos pássaros no Brasil. Significativamente, o livro com o seu diário é dedicado à proteção à natureza. Com isso, a Bulgária passa a desempenhar um papel relevante na história das preocupações ambientais no âmbito do programa Cultura/Natureza da A.B.E..


Em 2014, instituições de cidades da Bulgária foram visitadas, entre elas sobretudo museus etnográficos, históricos e arqueológicos. Deu-se assim prosseguimento in loco aos estudos relacionados com tradições culturais, com a história do país independente nas suas relações com o Brasil e com o de fundamentos do edifício cultural remontante à época da expansão helênica e da Cristianização. Devido ao significado histórico da Bulgária para o tratamento de questões relacionadas com a natureza, foram visitados parques e jardins. Sob o aspecto de fundamentos culturais de construção de paisagens, deu-se particular atenção ao palácio da rainha Maria da Rumênia no Mar Negro, cujo parque, possuidor de valioso patrimônio vegetal em parte proveniente do Brasil, constitui hoje o jardim botânico da Universidade de Sofia.


Principal finalidade da viagem foi a de observar a situação atual da vida cultural e dos estudos nas diferentes esferas de conhecimento, das tendências do pensamento e de ações, assim como a programação que fazem de várias cidades búlgaras centros culturais internacionais com os seus muitos festivais.





Materiais
Apenas os disponíveis nos sites da A.B.E.

(em elaboração)







 


Nesebar e Museu etnográfico de Burgas e Sosopol.
Fotos A.A.Bispo 2014.
Arquivo A.B.E.©

 

BRASIL-EUROPA
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Organização de estudos de processos culturais em relações internacionais (registrada 1968)
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Direção: Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo

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