Orientação: análise de processos e procedimentos refletidos, inter- e transdisciplinares
Os estudos relacionados com Pernambuco da Academia Brasil-Europa remontam aos anos que prepararam a fundação, em 1968, da instituição que hoje constitui a Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais.
No contexto dos intuitos de renovação dos estudos culturais de meados da década de sessenta, passou-se a discutir questões relativas às expressões culturais sob a perspectiva da processualidade e da superação refletida teoricamente de fronteiras disciplinares. Paralelamente, reconheceu-se a necessidade de se considerar correntes de pensamento e métodos, ou seja, da difusão de idéias, concepções e expressões, assim como das rêdes em que ocorrem.
Pernambuco nas reflexões culturais
Sobretudo nas áreas da música e da arquitetura, o passado colonial de Pernambuco assume, ao lado de Minas Gerais e da Bahia, uma relevância excepcional no contexto histórico-cultural do país e da América Latina em geral.
Percebeu-se, porém, em fins dos anos sessenta, a necessidade de uma reflexão mais aprofundada relativamente aos pressupostos teóricos do tratamento da arte ou da música barroca. A processualidade do colonialismo e a função nele exercida pelas expressões artísticas não podiam mais deixar de ser consideradas.
Personalidade que atuou decisivamente no desenvolvimento dessas discussões foi o Prof. Dr. Jaime Cavalcanti Diniz. Em encontros realizados em Curitiba, por ocasião da execução do Te Deum de Luís Álvares Pinto, obra significativa do passado musical de Pernambuco e por êle encontrada, estudada e restaurada, discutiu-se a questão da necessidade de aprofundamento teórico de questões relacionadas com a história da música e da prática de execução, sobretudo sob o ponto de vista de uma maior consideração dos resultados de pesquisas culturais empíricas na realização de obras levantadas através do estudo de fontes históricas.
Um dos aspectos então discutidos disse respeito à questão das possibilidades e o sentido de integração de obras sacras do passado - e que constituemm a maior parte do repertório - no culto e na vida religiosa do presente. Essas preocupações permaneceram de significado no trabalho dos anos seguintes.
Sob o aspecto exclusivamente teórico-cultural, a discussão desse complexo de questões teve continuidade em São Paulo, em 1968, ano de fundação da entidade, quando a obra de Luís Álvares Pinto foi reapresentada sob a regência de Luís Roberto Borges.
O relacionamento entre a perspectiva histórica e a cultural empírica foi discutido em conjunto com pesquisadores de folclore e de cultura popular, em particular com o Prof. Rossini Tavares de Lima, presidente da Associação Brasileira de Folclore e então atuante no centro de pesquisas da entidade constituída. Através do estabelecimento de contatos com pesquisadores das comissões estaduais de folclore, entre elas a de Pernambuco, procurou-se discutir a renovação dos estudos em orientação interdisciplinar nas diferentes regiões.
Estudos empíricos contextualizados, meios de comunicação e construção de imagens
Em 1970, realizou-se uma viagem de contatos e estudos a Recife e Olinda. O espectro das questões tratadas nos encontros do Paraná e de São Paulo deveriam ser aqui ampliados com observações locais da cultura popular nas suas expressões atuais e da mídia, assim como da situação de seus estudos.
Pernambuco na Músico-Etnologia e na pesquisa cultural
Primeira consideração mais específica de Pernambuco sob o aspecto então preconizado do estudo de processos de difusão deu-se no âmbito da disciplina Etnomusicologia/Músico-Etnologia, introduzida, no sentido próprio do termo, em 1972, em cursos de Licenciatura da Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo.
Procedeu-se, entre outros aspectos, à atualização da pesquisa relativa ao frevo e à prática da banda de música em Pernambuco.
Estudos em rêdes internacionais. Programa Pernambuco/Europa“G. Marcgrave"
A partir de 1974, passou-se a desenvolver um programa de levantamento de fontes e materiais relativos a Pernambuco em bibliotecas e museus da Europa.
Uma particular atenção foi aqui dada a instituições nos Países Baixos relativamente à época da presença holandesa no Brasil.
Procurou-se, aqui, seguir o exemplo, de forma atualizada, de Alfredo de Carvalho, antigo diretor da Biblioteca Pública de Pernambuco, autor da Bibliotheca Exotico-Brasileira (publicada por Eduardo Tavares, Rio de Janeiro: Paulo, Pongetti, 1929).
Nos anos que se seguiram, realizaram-se vários encontros e debates com a presença de Francisco Curt Lange, Maria Augusta Alves Barbosa e outros pesquisadores brasileiros e portuguêses juntamente com professores da Universidade de Colonia, entre outros Karl Gustav Fellerer. Nesses encontros, que trataram sobretudo da organização do trabalho internacional relativo a Portugal e ao Brasil, o passado cultural de Pernambuco foi sempre uma constante.
A discussão teórica, desenvolvida, entre outros aspectos, sob o signo do conceito da recepção cultural e sua reciprocidade, levou a uma publicação que serviu de base aos trabalhos do Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira", realizado em São Paulo, em 1981.
Jaime Diniz atuou decisivamente no desenvolvimento dos trabalhos e eventos. Foi um dos principais orientadores e participantes do Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira", realizado em São Paulo, em 1981, quando tratou do significado de Pernambuco nos estudos culturais do Brasil.
Foi co-idealizador e membro fundador da Sociedade Brasileira de Musicologia, tendo salientado também aqui a relevância de Pernambuco sob a perspectiva musicológica no Brasil e na América Latina em geral.
Preocupava-se com uma preponderância de enfoques por demais marcados por um certo culto a determinados pensadores de São Paulo do seculo XX.
Bases teóricas de interpretações adequadas de sentido de expressões culturais
As tradições natalinas de Pernambuco foram tratadas em cotejos com aquelas de diferentes contextos europeus, em particular da Alemanha, procurando-se similaridades e diferenças, assim como razões que permitem elucidar diversidades de expressões de similar conteúdo.
As tradições de Pernambuco forneceram importante ponto de partida para os estudos da simbologia e da linguagem visual que se desenvolveriam nos anos seguintes.
Por ocasião do primeiro colóquio euro-brasileiro dedicado a tradições cristãs brasileiras e sincretismo, em 1989, realizado em várias cidades e centros de Estudos da Religião relevantes da Alemanha, Pernambuco foi considerado em sessões dedicadas às expressões culturais do ciclo de Natal e Reis. Foram consideradas à luz da discussão teológico-filosófica de métodos hermenêuticos.
Consideração de correntes de pensamento e métodos de pesquisadores de Pernambuco
Em sequência a esse colóquio internacional de 1989, procedeu-se a uma viagem de estudos a Pernambuco. Visitou-se, entre outras instituições, a Fundação Joaquim Nabuco e o Gabinete Português de Leitura.
Com o estudo de obras ali conservadas, pôde-se constatar, entre outros aspectos, o significado de relações internacionais no âmbito da Educação no seculo XIX, revelando-se o significado de expressões culturais dos Açores relacionadas com o Espirito Santo no desenvolvimento das concepções vinculadas ao movimento orfeônico do século XIX. Vários aspectos da história da Educação Musical nos seus vínculos com a história cultural e do pensamento puderam ser salientados. Esses novos conhecimentos e impulsos foram considerados em cursos, conferências e publicações. Relatos foram amplamente difundidos na revista da A.B.E. (Veja números correspondentes da Revista Brasil-Europa, de 1990)
Estudos culturais sob a perspectiva da Antropologia Simbólica
Os resultados das analises de sentido de expressões culturais de Pernambuco, em particular dos pastorís, foram discutidos em diversas ocasiões na Europa e tratados em cursos e seminários. Motivaram, em grande parte, o Colóquio Internacional de Antropologia Simbólica, levado a efeito em São Paulo, em 1998. O papel desempenhado por Pernambuco foi decisivo no desenvolvimento de estudos da imagologia que relaciona a antiga mitologia clássica com a Antropologia Cristã, ou seja, que tratam a reinterpretação de sentidos do antigo edifício de concepções do mundo e do homem.
Estudos relativos à arquitetura, às artes plásticas e às tradições populares foram desenvolvidos de forma relacionada em vários circuitos culturais promovidos pela A.B.E. e seus institutos. Universitários europeus foram levados a ocupar-se com temas relativos a Pernambuco em vários seminários desenvolvidos nas universidades de Bonn e Colonia, assim como em colóquios da A.B.E.. Em cursos, conferências e em trabalhos acadêmicos foram considerados também expressões culturais contemporâneas de Pernambuco.
Cronologia
dos trabalhos
1968. Curitiba. Diálogos ob a direção de J.A. Diniz no âmbito do Festival e Cursos Internacionais. Pesquisa histórica e estudos culturais do Nordeste. Preparativos para a fundação da organização.
1969. Curitiba e São Paulo. Estudos Pernambucanos, estudos históricos e processos de difusão. Apresentação e debate de obra do século XVIII descoberta por J.A.Diniz
1969. São Paulo. História da arquitetura, urbanismo, planejamento e estudos culturais no Brasil: Pernambuco. Estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Faculdade de História da USP, Centro ND.
1970. São Paulo. Expressões culturais em contextos regionais: Folclore de Pernambuco sob a perspectiva de processos difusivos. Centro de Pesquisas ND, Museu de Artes e Técnicas Populares/Folclore, Centro ND.
1970. Recife e Olinda.Comunicações, Mídia e Estudos Culturais. Pesquisas do frevo e de outras expressões musicais populares.
1971. Recife, Olinda, Camaragibe, Igarassu, Sirinhaem, Tracunhaem. Encontros em diversas instituições para o início oficial dos trabalhos por ocasião do lançamento de "Músicos Pernambucanos do Passado II, de J. C. Diniz.
1975. Colonia, Amsterdam, Leiden, Den Haag. Estudos de relações Pernambuco-Europa: Fontes bibliográficas e documentais sobre Pernambuco em instituições européias.
1977. Maria Laach e Roma. Início dos trabalhos relacionados com Pernambuco em instituições e rêdes eclesiásticas e missionárias. Estudo de significado de expressões do calendário de festas católicas de Pernambuco.
1979. Bonn. Simpósio Internacional. Renovação epistemológica dos estudos de relações entre a África e o Brasil. Sessão sobre expressões culturais de Pernambuco.
1980. Recife, Olinda, Igarassu, Goiana. Encontros para atualização de contatos e estudos em diversas instituições.
1981. Recife. Preparatórias no Nordeste para trabalhos internacionais e para fundação da Sociedade Brasileira de Musicologia.
1981. São Paulo, Petrópolis, Mariana. Pernambuco no Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira" e eventos que se seguiram.
1985. Roma. Simpósio etnomusicológico. Fundamentos da cultura cristã no mundo extra-europeu: expressões culturais de Pernambuco em contextos histórico-culturais globais.
1987. São Paulo. Congresso Brasileiro de Musicologia. Situação dos estudos e das pesquisas em Pernambuco.
1989. Speyer, Kiedrich, Eibingen, Bonn. Colóquio Internacional de Tradições Cristãs e Sincretismo. Sessão dedicada a tradições religiosas de Pernambuco, com particular consideração do estudo semiótico da linguagem visual dos pastorís.
1990. Recife, Olinda, Igarassu e outras cidades. Atualização de estudos e contatos.
1992. Rio de Janeiro. Pernambuco no Congresso Internacional pelos 500 anos da América dedicado a questões de fundamentos das expressões culturais e da própria pesquisa.
1993. Recife. Início dos trabalhos apoiados pelo Ministério do Exterior da Alemanha e de organizações pontifícias em colaboração com universidades. Encontros para a constatação da siituação dos estudos histórico-culturais, etnológicos e da museologia. Gabinete Português de Leitura e na Fundação Joaquim Nabuco.
Lagos e Braga, Portugal, Lançamento de publicação com relatos dos trabalhos realizados sobre a leitura da linguagem visual de expressões culturais de Pernambuco.
1998. São Paulo. Pernambuco no Colóquio Internacional de Antropologia Simbólica.
2002. Colonia. Lançamento de publicação. Pesquisadores europeus no Brasil na sua inserção histórico-cultural: Pernambuco
Materiais
Apenas os disponíveis nos sites da A.B.E.
(em elaboração)
•Georg Markgraf (1610-1644) e a Historia Naturalis Brasiliae nas suas relações com a história científico-cultural da Alemanha, Países Baixos e do Mar Báltico. Pelos 375 anos da expedição a Pernambuco
•Pernambuco em Uma viagem no Brasil de Wolfgang Adolf Gerle (1781-1846)
•Costumes e caráter dos brasileiros de Wolfgang Adolf Gerle (1781-1846)
•Inglêses na vida cultural do Brasil e em Maurício no século XIX
•Difusão e Apologética em contextos euro-brasileiros. H.-F. R. de Lamennais - Dieu et Liberté
•Recife: Promoção de folclore musical no contexto dos festejos de passagem de ano
Fotos A.A.Bispo
© Arquivo A.B.E.
BRASIL-EUROPA
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Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (registrada em 1968)
Academia Brasil-Europa
de Ciência da Cultura e da Ciência
e institutos integrados ISMPS/IBEM
Dir. Prof. Dr. Antonio Alexandre Bispo
PERNAMBUCO