Paraiba. Foto A.A.Bispo©


Orientação: análise de processos e procedimentos refletidos, inter- e transdisciplinares

Os trabalhos da Academia Brasil-Europa relacionados com a Paraíba remontam aos anos que prepararam a fundação, em 1968, da entidade que hoje constitui a Organização Brasil-Europa de estudos de processos inter- e transculturais e de estudos culturais em relações internacionais.


  
Paraiba. Foto A.A.Bispo©


Pesquisadores e estudantes de São Paulo constatavam, na época o insuficiente estado dos conhecimentos relativos a várias regiões do Brasil. Ao mesmo tempo, reconhecia-se a necessidade de condução de estudos sob perspectivas interdisciplinares, adequadamente refletidas, uma vez que a complexidade de processos em anos de intensas transformações tornava difícil a distinção entre esferas culturais do erudito, do popular e do folclore. A cooperação entre etnólogos, folcloristas, sociólogos e historiadores da cultura surgia como indispensável. 


Essas preocupações levaram à fundação, em 1968, de uma entidade que representava um movimento de tendências renovadoras e que dirigia as suas atenções a processos, em particular também àqueles de de difusão. (Nova Difusão)


    
Paraiba. Foto A.A.Bispo©



Paraiba. Foto A.A.Bispo©
A Paraíba na atualização dos Estudos Culturais


Pela riqueza, diversidade e força de suas expressões culturais tradicionais, Paraíba sempre foi reconhecido como um dos Estados do Brasil de maior significado para os estudos culturais.


Com a intensificação da migração interna nordestina às metrópoles do Sul do país, em particular a São Paulo, e tomando-se consciência da necessidade e da oportunidade do desenvolvimento de estudos das expressões culturais dos migrantes, constatou-se que essas pesquisas não poderiam resumir-se a estudos do "folclore" nordestino sem a ida ao Nordeste, mas sim deveriam considerar os processos econômicos e de transformação cultural e sócio-cultural em que os migrantes e os imigrados se inseriam, ao mesmo tempo dando atenção às próprias transformações culturais por que passava a cidade de São Paulo.


Estudos de transformação de espaços urbanos e de sua percepção associaram-se àqueles voltados a expressões culturais na sua dinâmica e àqueles de migrações.


Compreende-se, assim, que essas preocupações levassem a trabalhos de cooperação entre estudantes e pesquisadores de diferentes instituições no âmbito do movimento então iniciado, entre elas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, do Departamento de História e Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da Universidade de São Paulo e da Associação Brasileira de Folclore através do Museu de Artes e Técnicas Populares.


O estudo de expressões e questões culturais relativas ao Estado da Paraíba partiu, assim, de situações migratórias, aguçando ainda mais a sensibilidade para questões relativas a processos históricos e à análise de suas estruturas.


O Estado da Paraíba na Músico-Etnologia e na pesquisa cultural


Primeira consideração mais específica da Paraíba segundo a orientação interdisciplinar dirigida a processos deu-se no âmbito da Músico-Etnologia/ Etnomusicologia, disciplina introduzida, no sentido próprio do termo, em 1972, em cursos de Licenciatura da Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo.


Entre outros especialistas, João Batista Siqueira (1906-1992) cooperou como conselheiro à consideração da cultura paraibana nos estudos de Etnomusicologia instituídos em São Paulo. Esse pesquisador procurava também empregar enfoques interdisciplinares nas suas pesquisas, associando estudos folclóricos, etnológicos, históricos e estéticos. Os estudos relacionados com Paraíba associaram-se, desde então, a considerações das bases teóricas e dos procedimentos metodológicos desse pesquisador, ou seja, análises de expressões culturais uniram-se a análises de seu pensamento, focalizando-as sob perspectivas atualizadas.


O estudo de expressões culturais paraibanas passou a ser considerado nesse sentido teórico renovador tanto na consideração da bibliografia folclórica como na realização de trabalhos de observação empírica. Uma particular consideração mereceu a questão da integração de crianças provenientes de ambiente migratório nas escolas. A pesquisa relacionada com a Paraíba foi, aqui, estreitamente relacionada com debates sobre a Educação, em particular da artística.


A.B.E.
Estudos de fontes em rêdes internacionais. Projeto Paraíba/Europa


Com os esforços de levantamento de fontes para o estudo do Paráíba em bibliotecas de São Paulo e do Rio de Janeiro constatou-se a necessidade que representava uma consideração de materiais existentes em bibliotecas e museus do Exterior.


A partir de 1974, deu-se início à procura sistemática de fontes relativas aos vários Estados do Brasil em instituições européias, também aquelas relativas à Paraíba.


Em 1975 e 1976, uma particular atenção foi dada ao levantamento e ao estudo de fontes relativas à fase histórica da presença holandesa no Nordeste do Brasil. Foram, para isso, visitadas várias instituições nos Países Baixos, entre elas em Amsterdam, Den Haag, Rotterdam, Leiden e Utrecht.


Bases teóricas de interpretações de sentido de expressões culturais


Paralelamente ao levantamento de fontes históricas pouco conhecidas ou mesmo desconhecidas, sobretudo de relatos de viajantes, os estudos desenvolvidos a partir da segunda metade da década de 70 foram marcados sobretudo por uma atenção ao significado das expressões tradicionais inseridas em festivades religiosas.


A partir de 1977, no âmbito de trabalhos na área da Músico-Etnologia de instituto de pesquisas da organização pontifícia, instituição também apoiada pela Academia de Ciências da Mogúncia,  procurou-se desenvolver os estudos de fontes e a obtenção de informações através de rêdes eclesiais e através de contatos com religiosos e missionários sensíveis a questões culturais.


Pesquisa de fundamentos de processos culturais


Em 1980 realizou-se uma viagem de estudos a João Pessoa. No hotel Tambaú, efetivou-se um primeiro encontro dedicado a estudos de relações histórico-culturais entre a Paraíba e a Europa.


Os debates basearam-se, entre outros, no livro sobre Gazzi de Sá de Domingos de Azevedo Ribeiro, do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica e do Instituto Paraibano de Arqueologia e Antropologia, publicado em 1977.


Consideraram-se, nessa ocasião, outros músicos de projeção internacional nascidos em Paraíba, entre êles o pianista Antonio Guedes Barbosa e o compositor Ademar Nóbrega.


Esses estudos serviram de preparativos para a consideração de Paraíba no Primeiro Forum Brasil-Europa e na Primeira Semana de Música Brasil-Alemanha realizados em Colonia e Leichlingen, em 1981. O papel desempenhado por Gazzi de Sá na vida e nas atividades de H. Villa-Lobos voltaram a ser consideradas no Primeiro Congresso de Musicologia, realizado em São Paulo, em 1987.


Discussão de paradigmas teóricos pelos 500 anos do Descobrimento da América


Em 1992, por ocasião do Congresso de Musicologia realizado pelos 500 anos do Descobrimento da América e dedicado a questões de fundamentos, na cultura e na pesquisa, procedeu-se a uma homenagem ao estudioso paraibano João Batista Siqueira, professor da Escola de Música da U.F.R.J.. Dando prosseguimente à consideração de seus aportes e suas interpretações, consideraram-se algumas de suas obras em conferências e publicações no âmbito da sessão dedicada às investigações e hipóteses concernentes à contribuição indígena à formação da cultura musical brasileira.


Nascido no Estado da Paraíba, João Baptista Siqueira teve a sua formação no meio tradicional das bandas de música, atuando como mestre e compositor em várias cidades do interior. Desde 1928 no Rio de Janeiro, passou a atuar em banda militar e em orquestras populares. Após realizar estudos no então Instituto Nacional de Música, posteriormente Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil, Baptista Siqueira tornou-se, em 1938, assistente da cadeira de Harmonia. Como compositor, alcançou renome sobretudo por obras de inspiração indígena, o poema sinfônico Guriatã, executado em 1943 pela Orquestra Sinfônica Brasiledira, fundada pelo seu irmão, Mtro. José Siqueira, e o bailado Muiraquitãs, apresentado no ano seguinte. De sua obra como compositor voltado a assuntos indígenas salientam-se também o poema sinfônico Jandaia, de 1947, e Boiúna, de 1948.


Partindo da convicção de que o indígena constitui ainda a base étnica da população de Estados do Nordeste, o interesse de Baptista Siqueira dirigiu-se à demonstração da importância da contribuição indígena à cultura musical de sua região, procedendo a partir de enfoques teórico-musicais. Essa tendência de natureza sistemática na pesquisa de questões históricas concernentes ao folclore musical era vista como expressão de método propriamente científico por Baptista Siqueira, o que expôs no seu ensaio Influência ameríndia na música folclórica do Nordeste, de 1951.


Apesar de citar autores do passado, o pesquisador procurou demonstrar as suas convicções através de análises e de considerações da teoria medieval. Os esforços sistematizantes e musicológico-comparativos de Baptista Siqueira tiveram continuidade com a publicação de seu ensaio Pentamodelismo nordestino baseado em dados folclóricos, em 1956. A sua grande obra referente ao tema foi Os Cariris do Nordeste, publicada em 1978. Sempre preocupado com elucidações históricas a partir de estudos analíticos, Baptista Siqueira procurou, neste ensaio, estudar fundamentos linguísticos que auxiliariam a compreensão de fatos culturais de áreas dos Estados da Paraíba, do Ceará e de Pernambuco.

O relacionamento entre a História e a Etnologia foi uma preocupação constante na obra de Baptista Siqueira voltada à influência indígena na música folclórica do Nordeste.


A tendência básica de seu entendimento do processo científico levou-o à interpretações de fatos e documentos históricos a partir de análises musicais e estudos linguísticos. O estudo de documentos históricos e o desenvolvimento dos debates mais recentes, porém, salientavam a necessidade de uma revisão de muitas hipóteses quanto a origens derivadas de métodos a-históricos. A questão do relacionamento entre a História e a Etnologia, salientada pelo pensador paraibano permanecia e permanece, porém, de atualidade.


Contribuição da Paraíba ao desenvolvimento dos estudos culturais em geral


Universitários europeus foram levados a ocupar-se com temas relativos a Paraíba e, em particular, de forma diferenciada, aos trabalhos, às concepções e aos princípios teórico-metodológicos de Batista Siqueira. Considerações a respeito de suas posições teóricas foram feitas em vários seminários desenvolvidos nas universidades de Bonn e Colonia, assim como em colóquios da A.B.E.. Entre êles, cumpre salientar aquele dedicado às culturas indígenas, em 2002, por motivo da Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dedicada ao tema "À procura de uma terra sem males".


   


Publicações

relacionadas com os trabalhos:
(em elaboração)

Azevedo Paz de Souza Barros, Ermelinda, "Das investigações e hipóteses de João Baptista Siqueira concernentes aos elementos indígenas no Folclore Musical brasileiro", Correspondência Musicológica 22-2 (SBM/ISMPS 1993), 7-8

Bispo, A.A., "Investigações e hipóteses concernentes à contribuição indígena na formação da cultura musical brasileira", Correspondência Musicológica 22-2 (SBM/ISMPS 1993), 1-4




Cronologia

dos trabalhos


1966-68. São Paulo. Preparatórias. Paraíba em São Paulo. Discussões sobre a imigração nordestina a São Paulo, a possibilidade de estudo de tradições nordestinas na própria cidade e a transformação urbana e cultural de bairros e zonas periféricas. Contatos com pesquisadores do Nordeste.


1968. São Paulo. Fundação da sociedade para estudos de processos culturais e de difusão (ND), atual Organização Brasil-Europa. Revisão da literatura concernente aos Estados do Brasil sob o aspecto de desenvolvimentos processuais no passado e no presente.


1969. Curitiba. Encontro com estudantes e religiosos do Nordeste. Intuitos de renovação segundo ideais da inculturação com base em conceitos de aculturação da Antropologia Cultural e do Folclore.


1970. Recife. Paraíba no âmbito dos estudos nordestinos em geral. Tema: ação dos meios de comunicação em processos de difusão e na construção de imagens. Encontros sob a orientação de Jaime C. Diniz.


1970. Rio de Janeiro. Encontro com J. Baptista Siqueira a respeito de relações entre estudos de Folclore, Etnomusicologia e Estética.


1971. São Paulo. Paraíba na programação, sob os novos critérios, de cursos de Folclore e História da Música no Centro de Pesquisas ND em estreito relacionamento com a Escola de Folclore do Museu de Artes e Técnicas Populares.


1972. Maceió e Recife. Paraíba no âmbito dos estudos nordestinos em geral. Encontro de Maceió/Marechal Deodoro sob a orientação do Prof. Dr. Théo Brandão. Preparatórias para o tratamento da cultura popular do Nordeste em cursos de Estudos Culturais do Centro ND.


1972. São Paulo. Paraíba no programa da disciplina Etnomusicologia, introduzida na Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo. Trabalhos de pesquisa cultural do quotidiano em bairros com população nordestina da metrópole e estudos de folclore de crianças da imigração nordestina e sua transformação em escolas de primeiro e segundo grau. Consideração do pensamento de Baptista Siqueira na disciplina Estética, desenvolvida em estreita relação com a Etnomusicologia e Estruturação Musical.


1974. Hamburgo, Londres e Berlim. Início do levantamento de fontes históricas e materiais relativos aos Estados do Brasil em bibliotecas e museus da Europa.


1975. Amsterdam, Leiden, Utrecht e outras cidades dos Países Baixos. Paraíba no estudo da bibliografia referente ao Nordeste do Brasil, em particular à época da presença holandesa no Brasil.


1976. Colonia, Maria Laach e Roma. Início dos trabalhos em rêdes institucionais eclesiásticas, em bibliotecas e museus missionários de vários países e do Vaticano. Estudo de significado de expressões culturais, várias delas cultivadas no Estado da Paraíba. Reflexões sobre a necessidade de compreensão e reconstrução de edifícios de concepções e imagens, com os seus mecanismos e sentidos intrínsecos para poder-se tratar, em segundo passo, de suas interações em processos de transformação cultural.


1980. João Pessoa. Encontro para observações, contatos e lançamento de bases para a integração da Paraíba no trabalho euro-brasileiros e nos eventos em preparação. Consideração do significado de paraibanos na História da Música do Brasil, entre outros de Gazzi de Sá, também para estudos relacionados com Villa-Lobos.


1981. São Paulo. Estudos Culturais do Nordeste no âmbito do Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira",  dedicado ao tema "Unidade na Diversidade e Diversidade na Unidade". Pronunciamentos básicos de. Jaime C. Diniz sobre a necessidade de uma consideração do pensamento do Nordeste na condução dos Estudos Culturais, superando-se unilateralidades e excessivo culto a determinados nomes da história das idéias de São Paulo.


1981. Colonia/Leichlingen. Paraíba no I. Forum Euro-Brasileiro e na Ia. Semana Brasil-Alemanha de Música.


1992. Rio de Janeiro. Homenagem a J. Baptista Siqueira no contexto do II Congresso Brasileiro de Musicologia, realizado pelos 500 anos do descobrimento da América. Abertura do projeto internacional "Culturas Musicais Indígenas", a ser desenvolvido sob a perspectiva do estudo das transformações culturais, com uma discussão a respeito das posições de Baptista Siqueira relativas a significado relevante da influência indígena na cultura musical do Nordeste.


2000. Colonia. Consideração do debate teórico-cultural sob a perspectiva do tema "Música e Visões" do Congresso Internacional Brasil-Europa 500 anos de abertura do triênio de eventos pelos 500 anos do Brasil.


2002. Colonia. Consideração do debate teórico-cultural relacionado com a Paraíba no âmbito do Colóquio "Europa e universo indígena", promovido pela A.B.E. por motivo do tema da Campanha da Fraternidade da CNBB "À procura de uma terra sem males".




Materiais
Apenas os disponíveis nos sites da A.B.E.
(em elaboração)

  1. Côco-de-Mar das praias das Maledivas nascidos no paraíso das Seychelles. O quebra-cocos na India e os cocos praianos no Brasil. Estudos no Mont Fleuri Garden e no National Biodiversity Centre at Barbaron, Seychelles

  2. Olegário Venceslau, Academia Alagoana de Cultura. Um Palmares desconhecido

  3. Conferência da Paz de Versailles. Alsácia, relações franco-alemãs e o papel do Brasil: Epitácio Pessoa (1865-1942)

  4. História e Etnologia na consideração da contribuição indígena à cultura musical do Brasil

  5. J. Baptista Siqueira e os elementos indígenas no folclore brasileiro




 







Fotos A.A.Bispo
© Arquivo A.B.E.






 

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Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (registrada em 1968)


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