Bahia. Foto A.A.Bispo©

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Orientação: análise de processos e procedimentos refletidos, inter- e transdisciplinares

Os estudos da Academia Brasil-Europa relacionados com a Bahia remontam aos anos que prepararam a fundação, em 1968, da entidade que hoje é a Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais.


Os objetivos do movimento que então se formou dizia respeito à renovação que se sentia necessária nos estudos culturais, em particular naqueles do Folclore.


Procurava-se , entre outros aspectos, um exame mais aprofundado do sentido das expressões culturais tratadas nessa disciplina, ou seja, do patrimônio de festas, danças, cortejos e outras manifestações tradicionais, profanas e sobretudo religiosas, e que era conservado de forma particularmente intensa na Bahia.


Procurava-se uma explicação mais convincente e coerente da origem e do desenvolvimento dessas expressões.


Tanto a pesquisa historiográfica baseada em fontes documentais quanto a pesquisa empírica das manifestações tradicionais necessitavam complementar-se, para o qual havia a necessidade de reflexões teóricas e metodológicas.


Não só a história e as tradições vivas, porém, mas sim as expressões culturais contemporâneas, também as populares, precisavam vir a ser consideradas nos estudos culturais. A atenção passou a ser dirigida a processos.


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Estudos empíricos contextualizados e estudos históricos

Entre as principais personalidades que contribuiram para essas reflexões devem ser mencionados professores da Universidade Federal da Bahia, em particular Ernst Widmer e Walter Smetak, que se preocupavam na época com as relações entre a difusão cultural, a criação artística e expressões estéticas contemporâneas.


Em encontros realizados no âmbito dos Cursos Internacionais de Curitiba de 1967 e 1968, onde tomaram parte vários outros professores e musicos da Bahia, foram considerados diferentes aspectos de processos difusivos, procurando-se fundamentos teóricos para o seu tratamento adequado.


No âmbito da entidade fundada em São Paulo, em 1968, procurou-se coadunar esses impulsos com as correntes da pesquisa das expressões populares referentes à Bahia estudadas, entre outras instituições, no Museu de Artes e Técnicas Populares.


Em 1970, realizaram-se, na Universidade da Bahia, encontros para a discussão de questões relacionadas com processos de difusão cultural, interdisciplinaridade de enfoques e renovação da criação estética, da educação e da vida cultural em geral.


Ao lado de temas relacionados com o patrimônio arquitetônico e a estética contemporânea, as atenções dirigiram-se a questões de mídia, comunicação e cultura popular, uma vez que as reflexões realizaram-se paralelamente a um evento de dimensões nacionais que reunia vários intérpretes da música popular brasileira.


Em 1972, realizou-se uma viagem de contatos e pesquisas pelo litoral da Bahia, visitando-se várias cidades, entre elas Canavieiras, Belmonte, Porto Seguro, Jequié, Nazaré das Farinhas, Cachoeira, São Félix, Maragogipe, Santo Amaro da Purificação, São Francisco do Conde, Salvador e Lagoinhas.


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Considerando-se a abertura viária que então se fazia do litoral sul da Bahia,  o complexo temático condutor dos trabalhos foi o dos elos existentes entre vias de comunicação e processos de difusão cultural no passado e no presente. Procurou-se reconstruir rêdes de relacionamentos sociais na vida cultural, em particular através do exame de campos de ação de mestres de música, de distribuição de partituras e de outros aspectos que poderiam permitir um estudo de processos na sua estrutura e nos seus conteúdos.


Através do estudo dessas rêdes procurou-se estudar o interrelacionamento de várias esferas da cultura. Uma particular atenção foi dada à permanência de tradições de práticas e repertórios sacro-musicais, que, sobretudo em Santo Amaro da Purificação, representava uma manifestação de excepcional continuidade em época então marcada por reformas eclesiais.


Questões de continuidade e discontinuidade, tradição e inovação puderam ser aqui consideradas de forma expressiva, completando reflexões encetadas em outro centro de tradições sacro-musicais vivas no Brasil: São João del Rei.


Tendo-se escolhido como época para as pesquisas o período máximo de festas tradicionais no Recôncavo, a do Natal, Reis, a festa de Nosso Senhor do Bonfim e a de Santo Amaro da Purificação, procedeu-se então ao registro e ao estudo de várias expressões tradicionais do patrimônio cultural baiano, ternos de Reis e de Pastoras nas suas diversas expressões, Maculelê e Capoeira, entre outras.


Os resultados das observações e dos estudos, e sobretudo o impacto causado pela vivência do universo festivo de fundamentação religiosa da Bahia marcaram os trabalhos que se seguiram, determinado um direcionamento da atenção ao sentido da linguagem visual das expressões culturais, à simbologia e à sua hermenêutica.


A.B.E.


Primeiras tentativas de aproximação sistematizadora nesse sentido foram realizadas no âmbito da disciplina Etnomusicologia, então introduzida em cursos superiores de Licenciatura na Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo.



Estudos em rêdes internacionais. Programa Bahia/Europa "Pe. Theodoro Cyro"


A partir de 1974, desenvolveram-se levantamentos de fontes relevantes aos estudos das culturas indígenas e da história cultural da Bahia em bibliotecas e museus de vários países europeus.


A descoberta de obra magna de um mestre-capela de Salvador nos trabalhos anteriores, e que demonstra o significado do seu autor, o português Pe. Theodoro Cyro, na história das relações culturais entre a Europa e a Bahia, decidiu-se escolher o seu nome para designar o projeto dedicado ao levantamento de fontes referentes à Bahia na Europa.


Bases teóricas de interpretações de sentido de expressões culturais


Essa diferença teórico-cultural no estudo da linguagem visual e da hermenêutica das tradições religiosas baianas determinou o caminho temático que se reflete em eventos no Brasil e na Europa, entre êles o Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira" (1981) e o primeiro colóquio euro-brasileiro sobre "Tradições Cristãs e Sincretismo" (1989).


O estudo da linguagem visual de expressões culturais festivas e o de processos de harmonização de concepções e imagens, fundamentado em grande parte nas tradições baianas, levou no decorrer das décadas a análises de estruturas e mecanismos, de suas origens e transformações no decorrer dos séculos, dirigindo a atenção à Antiguidade tardia, à mitologia nas suas relações com o Cristianismo, ao estudo da hermenêutica e das tradições gnósticas e herméticas: ou seja, impulsos nascidos na Bahia influenciaram profundamente o trabalho de décadas relacionado com os estudos de vários contextos europeus.


Significado da Bahia na história cultural em contextos globais


Paralelamente, desenvolveram-se estudos de fontes históricas que permitem a reconstrução de caminhos de difusão e de rêdes da história cultural. Esses estudos deixaram evidente o extraordinário significado da Bahia na história global das relações culturais no passado, sobretudo no contexto do Padroado português. Esse significado histórico-cultural da Bahia foi salientado em diferentes oportunidades e em vários países europeus, assim como no Vaticano.


Várias viagens para a atualização de contatos, estudos e novas observações foram realizadas. Salientam-se, aqui, os trabalhos desenvolvidos em 1991 em Salvador e no Recôncavo.


Estudos culturais da Bahia sob a perspectiva da Antropologia Simbólica


Os resultados dos trabalhos foram discutidos em diversas ocasiões na Europa e tratados em cursos e seminários. O papel desempenhado pela Bahia foi decisivo no desenvolvimento de estudos da imagologia que relaciona a antiga mitologia clássica com a Antropologia Cristã, ou seja, que tratam a reinterpretação de sentidos do antigo edifício de concepções do mundo e do homem.


Contribuição da Bahia para o desenvolvimento dos estudos culturais em geral


Sobretudo a partir dos estudos referentes a tradições religiosas da Bahia, desenvolvidos no decorrer das décadas, a Academia Brasil-Europa diferenciou-se nos seus enfoques teóricos fundamentalmente daquela dos estudos da área, em particular também daqueles da Etnomusicologia norte-americana.


O exame mais aprofundado e diferenciado de paradigmas da pequisa foi tarefa de difícil consecução devido à rêde instituída de pesquisadores que construíram a sua vida profissional segundo interpretações convencionais. Essa situação demonstrou a necessidade de desenvolvimento dos estudos culturais em estreito relacionamento com análises da própria produção do saber e da consecução do trabalho científico (science of science), uma relação que hoje determina o escopo da Academia Brasil-Europa.


Universitários europeus foram levados a ocupar-se com temas relativos à Bahia em vários seminários desenvolvidos nas universidades de Bonn e Colonia, assim como em colóquios da A.B.E.. Em cursos, conferências e em trabalhos acadêmicos foram considerados também expressões culturais contemporâneas da Bahia, dando-se particular atenção à música popular e seu significado internacional.


 


Publicações

relacionadas com os trabalhos:

(em elaboração)

A:A.Bispo. Theodoro Cyro: Motetos para os Passos da Procissão do Senhor. Boletim da Sociedade Brasileira de Musicologia 2 (1984/85) s/d (1984), Separata



 

Cidades

consideradas


Alagoinhas

Alcobaça

Barra

Belmonte

Cachoeira

Camacan

Camacari

Canavieiras

Candeias

Caravelas

Feira de Santana

Ilhéus

Itaparica

Jequié

Maragogipe

Nazaré

Porto Seguro

Prado

Salvador

Santa Cruz Cabralia

Santo Amaro

São Félix

São Francisco do Conde


Cronologia
dos trabalhos

1967. Curitiba. Preparatórias. Diálogos com Ernst Widmer e Walter Smetak, da Universidade Federal da Bahia sobre problemas de processos de difusão cultural, preparadores da sociedade que seria a origem da atual organização Brasil-Europa, no âmbito dos Festivais e Cursos Internacionais do Paraná.

1969. São Paulo. Bahia na História da Arquitetura e da Arte no Brasil nas suas relações com processos históricos e sócio-econômicos. Estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Associação Brasileira de Folclore e Centro de Pesquisas ND.

1970. Salvador. Semana de estudos e encontros sobre a ação dos meios de comunicação na difusão e ana criação de imagens, e a necessidade de renovação dos estudos culturais através da superação do pensamento em categorizações do objeto. Debate com pesquisadores de folclore (Associação Brasileira de Folclore e Comissão Estadual) e contato com círculos de cultivo de tradições religiosas.

1972. Litoral da Bahia, Recôncavo e Salvador. Pesquisas, encontros e entrevistas com o objetivo de reconstrução e análise de rêdes sócio-culturais e suas transformações devido à abertura de estradas: mudanças de reorientação geográfico-cultural, relações entre tradição e inovação em diferentes contextos. Principais cidades consideradas: Camacan, Canavieira, Belmonte, Alcobaça, Porto Seguro, Ilhéus, Caravelas, Jequié, São Félix, Cachoeira, Maragogipe, Feira de Santana, Nazaré das Farinhas, Santo Amaro da Purificação, São Francisco do Conde, Candeias, Salvador, Alagoinhas. Atividades que tiveram maiores consequências no trabalho futuro: participação nas solenidades do Bomfim e encontros, Novena de Santo Amaro da Purificação, encontros em filarmônicas com estudo de materiais, sobretudo em Alagoinhas, Feira e Cachoeira.

1973. São Paulo. Bahia na Músico-Etnologia, primeira consideração de expressões culturais baianas sob a perspectiva da então introduzida disciplina Etnomusicologia na Faculdade de Música do IMSP. Bahia nos Estudos Culturais em trabalhos no Centro de Pesquisa ND e Museu de Artes e Técnicas Populares/Folclore.

1973. Primeiro seminário sobre Candomblé e tradições afins sob as novas perspectivas teórico-culturais no âmbito da disciplina Etnomusicologia da Faculdade de Música do IMSP.

1974. Hamburgo, Londres, Berlim. Início do Projeto Bahia/Europa "Pe. Theodoro Cyro".  O nome do Pe. Theodoro Cyro, compositor português formado no Seminário da Patriarcal e mestre-capela da Catedral da Bahia, cuja Semana Santa fora descoberta durante os trabalhos, testemunhando elos culturais entre a Europa e o Brasil, foi escolhido para designar o projeto de levantamento de fontes e materiais histórico e etnológicos relativos à Bahia em bibliotecas e museus europeus.

1977. Colonia, Maria Laach e Roma. Início dos trabalhos culturais em rêdes eclesiásticas e missionárias relevantes para os estudos culturais baianos através do instituto de pesquisas músico-etnológicas de organização pontifícia.

1979. Bonn. Congresso Internacional de Música Sacra, Simpósio etnomusicológico dedicados a estudos africanos. Trabalhos euro-brasileiros relativos à necessidade de reestudo epistemológico de interpretações de expressões culturais.

1980. Colonia e Maria Laach. Processos de recepção cultural na Bahia. Debates para o encerramento do quinquênio de trabalhos de fontes e de pesquisa empírica até então realizados e prospectivas.

1981. São Paulo. Bahia no "Simpósio Internacional Música Sacra e Cultura Brasileira".

1981-1987. Colonia, Roma, Lisboa. Estudo de fundamentos históricos e filosófico-teológicos de expressões tradicionais da Bahia e do significado histórico-cultural de Salvador no âmbito do império colonial português e da esfera mundial do Padroado.

1989. Speyer, Kiedrich, Eibingen, Maria Laach, Bonn, Colonia. Mística européia e mística baiana no Colóquio Internacional euro-brasileiro sobre Tradições cristãs e Sincretismo no Brasil. Lançamento de publicação com estudos de fontes históricas sobre o significado da Bahia no contexto global da história da expansão da cultura ocidental da era moderna.

1990. Salvador e Recôncavo. Viagem de atualização de conhecimentos, contatos e pesquisas.

2001. Colonia. Triênio pelos 500 anos do Brasil. Perspectivas para os estudos culturais nas relações entre a Europa e a Bahia no século XXI. Temas baianos no colóquio sobre o Barroco no terceiro milênio e no colóquio „Brasil 2001“ da A.B.E. e Universidade de Colonia.

2002-2008. Bonn e Colonia. Estudos baianos no contexto de seminários das universidades.





Materiais
Apenas os disponíveis nos sites da A.B.E.

(em elaboração)

  1. Mémorial ACTe em Guadeloupe e Brasil. Centro Caribenho de Expressões e Memória do Comércio de Escravos e da Escravidão no seu significado, arquitetura e problemática teórico-cultural. Mémorial ACTe, Pointe-à-Pitre

  2. Os Sakalava no „Madagáscar Olodum“ de Luiz Caldas/Margareth Menezes discutido em Nosy Be. Pesquisa da Música Popular em Processos Transculturais e World Music 2015

  3. Leichlingen-Salvador (BA). Ensino propedêutico-científico em música? „Possibilidades e Limites de uma Orientação Musicológica à Educação Musical“ após 30 anos. Ciência, não Cientificismo!

  4. Maria Goretti dos Santos Silva/Maria D'Ajuda Alomba Ribeiro (Bahia). O processo de autoria e autonomia na formação do professor de PLE (português como língua estrangeira)

  5. Paratinga (Bahia). Acervo musical. Trezena de Damião Barbosa de Araújo

  6. "Fantástico!": jornalistas e Zeppelins a serviço da propaganda e da arregimentação de imigrantes. Arthur Rehbein: Em três dias no Brasil

  7. Achegas para a história da música de banda no litoral sul da Bahia

  8. Sessão especial: Mudança de paradigmas - Gnose na Península Ibérica e sincretismo no Brasil

  9. Vias de comunicação no estudo histórico-musical do processo de difusão cultural

  10. Bahia: Estradas de ferro e vida musical no interior baiano

  11. Ainda Ernst Widmer: Pensamento teórico-cultural

  12. Barão de Macahubas: Da Educação Musical no Gymnasio Bahiano e nos Colégios Abilios: "Cantos para uso das escolas, collegios e familias" dedicados à Princesa Isabel (1888)

  13. Deolindo Fróes (1865-1948), André Dulaurens (1873-1932) e Georges Barrère (1876-1944). Espiritualidade baiana, simbolismo e fascinação pela estética alemã na França

  14. Sylvio Deolindo Fróes (1865-1948), André Dulaurens (1873-1932) e Georges Barrère (1876-1944). Espiritualidade baiana, simbolismo e fascinação pela estética alemã na França

  15. Ernst Widmer

  16. Ainda Ernst Widmer: Pensamento teórico-cultural

  17. E. R. Keilpflug. Impressões do ambiente sonoro das ruas de Rio de Janeiro e Salvador




 














Fotos A.A.Bispo
© Arquivo da A.B.E.

 

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Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (registrada em 1968)


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