Rio Branco, Acre. Foto A.A.Bispo©
Orientação: análise de processos e procedimentos refletidos, inter- e transdisciplinares


Os trabalhos da Academia Brasil-Europa referentes ao Acre devem ser considerados no contexto das finalidades da instituição fundada em São Paulo, em 1968, e que constitui hoje a Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais em relações internacionais.


A entidade nasceu da necessidade então sentida de renovação dos estudos culturais a partir de um direcionamento das atenções a processos e ao emprêgo de perspectivas interdisciplinares. Tratava-se, em particular, de relacionar enfoques historiográficos com aqueles derivados da pesquisa empírica, superar categorizações do objeto segundo o erudito, popular e folclórico e promover reflexões sobre.inter-trans- e metadisciplinaridade.


Estudos empíricos contextualizados e estudos históricos


Rio Branco, Acre. Foto A.A.Bispo©
O Acre, até então em geral pouco considerado, estava presente na historiografia e nos estudos de folclore relativos a seringueiros e ao extrativismo.


Com uma viagem ao Acre, em 1970, de estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e do Centro de Pesquisas da organização então fundada, deu-se início à reorientação dos estudos segundo processos - econômicos, migratórios, sócio-culturais e de expansão.


Temas acreanos passaram a ser considerados, sob essa perspectiva, em cursos de Folclore/Estudos Culturais do centro de estudos da entidade e no âmbito da disciplina Etnomusicologia em cursos de Licenciatura em Música e Educação Artística da Faculdade do Instituto Musical de São Paulo, instituídos em 1972.



Estudos acreanos em rêdes internacionais
Projeto Acre/Europa "Albert Perl"


Na segunda metade da década de 70, com o descobrimento, em Londres, de uma obra até então pouco conhecida (Durch die Urwälder Süd-Amerika's do Capt. Albert Perl (Berlin 1904), dedicada ao imperador da Alemanha, deu-se início a um projeto de levantamento de fontes e materiais históricos e etnológicos relativos ao Acre em bibliotecas e museus da Europa.

Paralelamente, deu-se início ao desenvolvimento de uma rêde de contatos através de estruturas eclesiásticas e missionárias no âmbito de trabalhos em instituto de pesquisas de abrangência internacional de organização pontifícia.


Primeira pesquisa do "Santo Dai-Me" e orientação segundo visões e visualizações


Rio Branco, Acre. Foto A.A.Bispo©
De fundamental importância para o desenvolvimento dos estudos acreanos no âmbito da A.B.E. foi a viagem ao Acre de pesquisadores dirigidos pela Profa. Dra. Julieta de Andrade, em 1978/79.


Os resultados dos estudos foram considerados no âmbito de simpósio etnomusicológico internacional realizado em Bonn, assim como em Colonia e em Roma.


Publicou-se, no Vaticano, o primeiro estudo sobre o movimento do "Santo Dai-me", voltado à questão da "miração", marcando o desenvolvimento dos estudos em direção a visões, à imagologia e à semiótica. Esse trabalho foi lançado e discutido no Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira", realizado em São Paulo, em 1981.


Na Europa, o Santo Dai-Me foi discutido em várias ocasiões, sobretudo sob a perspectiva dos Estudos das Religiões, da Teologia/Mística e da Antropologia Cultural. Esses estudos, que passaram a voltar-se à "União do Vegetal", foram desenvolvidos junto a conhecedores do movimento em outras regiões do Brasil (Amazônia, Nordeste) e na Europa, em particular em Amsterdam.


Sistematização e integração de estudos euro-brasileiros: Acre


Rio Branco, Acre. Foto A.A.Bispo©
Em 1993, realizou-se uma viagem a Rio Branco com o objetivo de atualização de conhecimentos, de estabelecimento de contatos e de levantamento de dados para a sistematização dos estudos relacionados com o Acre da A.B.E..


Os trabalhos foram realizados no contexto de projetos apoiados pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, universidades e instituições de pesquisa européias e brasileiras.


Com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura e de outros órgãos governamentais, foram feitas observações das atividades culturais e realizaram-se encontros em diferentes instituições, assim como com pesquisadores e artistas.


Desses encontros, aqueles realizados na Casa da Cultura de Rio Branco com o artista Hélio Melo focalizaram sobretudo questões de Ecologia e suas relações com a cultura.


O mundo do seringueiro foi particularmente considerado, tendo-se aqui também a contribuição do Museu da Borracha de Rio Branco.


Os trabalhos receberam significativo apoio do Conselho Indigenista Missionário CIMI. Essa instituição possibilitou o estudo da sua hemeroteca com material informativo relativo a desenvolvimentos mais recentes, sobretudo quanto à transformação cultural e social de grupos indígenas que entram em contato ou se integram na sociedade dominante. Possibilitou também contatos com antropólogos relacionados com a Comissão Pró-Índio e que realizam trabalhos em regiões do interior do Estado.


Rio Branco, Acre. Foto A.A.Bispo©


Estudos, seminários e exposições sôbre o Acre na Europa


As observações e os materiais documentais levantados no Acre forneceram subsídios a conferências, aulas, seminários, e exposições na Europa. As culturas indígenas do atual Estado do Acre foram aqui particularmente consideradas sob a perspectiva de relações transnacionais de fronteiras e de migrações urbanas.


Também a história do território e do atual Estado foi tratada de acordo com a bibliografia levantada e reexaminada sob questionamentos atualizados.


A obra de Hélio Melo foi considerada em eventos em São Paulo e em cidades da Alemanha, sendo acompanhadas por comentários e conferências dedicadas às relações entre Cultura e Natureza.


                                       
Rio Branco, Acre. Foto A.A.Bispo©


Contribuição do Acre para o desenvolvimento dos estudos culturais em geral


O direcionamento da atenção a visões no âmbito de pesquisas do Santo Dai-Me/União do Vegetal contribuiu de forma relevante à valorização de análises imagológicas no âmbito dos estudos culturais desenvolvidos pela A.B.E..


Esse movimento cultural-religioso foi considerado no Colóquio Internacional de Antropologia Simbólica (São Paulo,1998) e foi um dos fatores que motivou a escolha do tema "Música e Visões" para o Congresso Internacional de abertura do Triênio pelos 500 Anos do Descobrimento do Brasil, em Colonia/Bonn, em 1999.


Deve-se salientar que universitários europeus foram levados a ocupar-se com temas acreanos em vários seminários desenvolvidos nas universidades de Bonn e Colonia, assim como em colóquios da A.B.E. Gravações com cantos indígenas foram transcritas e analisadas por mestrandos e doutorandos em Etnomusicologia, e os trabalhos foram apresentados ao vivo e em publicações.



       


Publicações

relacionadas com os trabalhos
(em elaboração)


Andrade, J. de. "Música e dança na Miração do Santo Dai-Me" in A.A.Bispo et alii, Collectanea Musicae Sacrae Brasiliensis, Musices Aptatio, Roma: Urbaniana 1981,299-316


Bispo, A.A. "Zur Situation der Forschung: Acre", in Die Musikkulturen der Indianer Brasilens, Musices Aptatio, Liber Annuarius, Jahrbuch 1994/95, Roma e Colonia,1997,24-43


Rodekuhr, P. A. "Zu einigen Aufnahmen von Indianer-Gesängen Acres/A respeito de algumas gravações de cantos indígenas do Acre", in  A.A.Bispo (org.) Die Musikkulturen der Indianer Brasilens, Musices AptatioMusices Aptatio, Liber Annuarius, Jahrbuch 2000/2001, Roma e Colonia, 2002, 497-503




Cronologia dos trabalhos

1970. São Paulo. Estudos culturais do seringueiro e do extrativismo sob o aspecto de processos econômicos, sociais e desenvolvimentistas. Viagem ao Acre de estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo USP, Centro de Pesquisas ND.

1972. São Paulo. Faculdade de Música IMSP e Centro de Pesquisas ND. Estudos introdutórios relativos ao Acre sob a perspectiva dos Estudos Culturais e da Etnomusicologia, bases geográficas, historiografia e configuração étnica.

1974. Início do levantamento de fontes em bibliotecas européias.

1975. Londres e Colonia. Universidade de Colonia e Centro de Pesquisas ND. Descobrimento da obra Durch die Urwälder Süd-Amerika's do Capt. Albert Perl (Berlim 1904).1977. Maria Laach- Roma. Início dos trabalhos culturais em rêdes eclesiásticas e missionárias relativas ao Acre através de instituto de organização pontifícia.

1979. Rio Branco e outras cidades. Viagem de pesquisadores sob a direção da Dra. Julieta de Andrade. Primeiro estudo sobre a „Miração“ do Santo Dai-Me.

1979. Bonn. Simpósio etnomusicológico. Pesquisa da religião e cultura no Acre. Migrações internas e expressões culturais do Nordeste no Acre.

1980. Colonia e Maria Laach. Processos de recepção cultural no Acre. Debates para o encerramento do quinquênio de trabalhos de fontes e de pesquisa empírica até então realizados e prospectivas.

1981. Roma, Maria Laach e São Paulo. Lançamento de publicação com o primeiro estudo sobre o movimento religioso do "Santo Dai-me" e suas relações com processos culturais. Acre no "Simpósio Internacional Música Sacra e Cultura Brasileira".

1985. Roma. Seminário músico-etnológico sobre os fundamentos culturais e filosófico-teológicos de concepções do "Santo Dai-me".

1989. Speyer, Eibingen, Maria Laach, Bonn, Colonia. Mística européia e "Santo Dai-me" no Colóquio Internacional euro-brasileiro sobre tradições cristãs e sincretismo no Brasil.

1993. Rio Branco. Encontros e contatos. Secretaria de Estado da Cultura: movimento cultural, vida musical, publicações; outras Secretarias de Estado: estatísticas, planejamentos, questões ecológicas, geografia cultural; Museu da Borracha: estudos e museologia da cultura do seringueiro; Casa da Cultura: Ecologia e Cultura, obra de Hélio Melo; Universidade do Acre: situação dos estudos culturais em publicações; Diocese do Rio Branco: informação sobre projeto de organização pontifícia; Conselho Indigenista Missionário: documentação de mudanças e problemas sócio-culturais e religiosos de grupos indígenas/migrações; Comissão Pró-Índio, cooperação com antropólogos: Etnologia  e transformações culturais no Interior do Acre.

1994. Manaus, Fortaleza, Colonia e Amsterdam. Entrevistas com conhecedores da União do Vegetal; relações com o processo de criação artística.

1994. Colonia e Maria Laach. Situação e tarefas da pesquisa de processos culturais no Acre. Músico-Etnologia do Acre: Yawanawa, Jaminawa, Kaxinawa, Kampa/Ashanica.

1995. Colonia e Aachen. Problemas ecológicos e culturais no Acre. Da obra de Hélio Mello.

1998. Lagos/Portugal e São Paulo. Lançamento de publicação e debates no Simpósio Internacional „Oriente e Ocidente: Cultura Musical e Espírito“. Concepções da União do Vegetal no Colóquio Internacional de Antropologia Simbólica.

1999. Maria Laach. União do Vegetal e concepções de „mirações“ no Simpósio "Brasil-Europa: Música e Visões" pela abertura do Triênio de eventos pelos 500 anos do Descobrimento do Brasil.

2002. Colonia e Maria Laach. Temas acreanos em cursos de mestrado da Universidade e no Colóquio de Culturas Indígenas da Amazônia da A.B.E. Lançamento de publicação com estudos de estudantes alemães sobre material registrado no Acre.

2002. Gramado. Lançamento brasileiro de publicação com estudos de estudantes alemães sobre material registrado no Acre.

2004. Bonn. Acre no Seminário Superior da Universidade Renana Friedrich-Wilhelms relativo à projetos atuais da Músico-Antropologia.

2007. Colonia. Acre e o movimento União do Vegetal em Seminário universitário relativo à Hermenêutica nos estudos de relações entre Música e Religião.

2008-2010. Estudos no âmbito do programa Pacífico-Atlântico da A.B.E. (ver relatos no site)





 

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Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (registrada em 1968)


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de Ciência da Cultura e da Ciência
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