BRASIL-EUROPA
PROCESSOS CULTURAIS EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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PROCESSOS CULTURAIS EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A Fundação Walcker-Mayer apoiou de forma significativa as atividades referentes ao Brasil do Instituto de Estudos da Cultura Musical no Espaço de Língua Portuguesa (I.S:M.P.S. ) e da Academia Brasil-Europa. Esse apoio deu-se através da participação do seu presidente Werner Walcker-Mayer (1923-2000) nos estudos e reflexões referentes ao órgão e sua construção no Brasil sob a perspectiva do programa iniciado na Alemana em 1974 e no auxílio financeiro a iniciativas da organização.
No início da implantação do programa, questões referentes ao órgão em processos culturais Europa-Brasil foram tratadas sobretudo na esfera evangélica em interações com o Prof. Volker Gwinner, da Escola Superior de Música de Hannover e da Johannes-Kantorei em Lüneburg.
No âmbito de encontros em Colonia e em Roma no contexto da construção do órgão móvel para a Basílica de São Pedro em Roma em fins da década de 70 como presente do Chanceler alemão, passou-se a discutir questões relativas à construção de órgãos e ao uso do instrumento sob as novas condições da prática litúrgica no Brasil, uma vez que se preparava, do lado brasileiro, o Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira".
Com essas trocas de idéias deu-se início a cooperações de W. Walcker-Mayer com iniciativas euro-brasileiras que se prolongaram por anos.
Tendo-se considerado que um dos principais problemas relacionados com o instrumento no Brasil sempre foi o dos altos custos de importação, necessária devido ao insuficiente número de organeiros no país, W. Walcker-Meyer dispôs-se a apresentar uma proposta de formação a brasileiros interessados no seu centro de estudos em Ludwigsburg.
O interesse de W. Walcker Mayer pelo Brasil não era novo, inscrevendo-se no âmbito da tradição das relações de seus antepassados no Brasil e nas suas atividades internacionais, que uniam o idealismo pelo tema com a pesquisa e interesses empresariais.
O primeiro órgão Walcker fornecido ao Brasil foi para Porto Alegre, em 1896. A ele seguiu-se instrumento para o Conservatório do Pará, em 1899. Até 1980 haviam sido enviados 25 órgãos para o Brasil, dos quais 11 para S. Paulo. O maior deles era o da Basílica de S. Bento, com 80 registros.
Os trabalhos de recuperação de órgãos históricos em vários países proporcionaram a Werner Walcker-Mayer um vasto conhecimento da situação do patrimônio de instrumentos no mundo. Nas suas visitas, procurava despertar a atenção para o significado dos instrumentos nos vários contextos, contribuindo assim de forma significativa para intercâmbios, relações e valorizações do patrimônio instrumental. Em viagem à América do Sul, W. Walcker-Mayer havia feito observações sobretudo quanto a condições climáticas e durabilidade de instrumentos. Pôde empregar esses seus conhecimento em vários intrumentos que construiu para o Brasil. Em viagem realizada em 1975/6, teve ocasião de rever e inspecionar os instrumentos, constatando que, apesar de não serem bem cuidados, tinham-se mantido em bom estado de conservação.
A viagem realizada por vários países da América do Sul e Central levou à elaboração de regras especiais para regiões tropicais, necessárias devido ao alto grau de humidade do ar e, em parte, de falta de humidade, tornando-se necessário empregar materiais especiais e tratamento contra cupins. Desenvolveu, a partir de suas observações na América Latina, uma forma especial de construção para territórios sujeitos a terremotos, um conhecimento que foi de utilidade na construção do órgão móvel para a Basílica de S. Pedro em Roma.
Houve, assim, uma influência recíproca entre a América Latina e a Europa na construção de órgãos: as experiências feitas em países americanos contribuiram para a construção do órgão oferecido pelo Chanceler alemão a João Paulo II e dessa ocasião surgiu o projeto para a formação de organeiros brasileiros na Alemanha.
Procurou-se, no contexto desse projeto, trazer à consciência que cada instrumento no Brasil possui uma história, relaciona-se com determinada corrente cultural e sacro-musical nas relações entre a Europa e o Brasil, com determinados compositores e organistas, merecendo ser tratado particularmente. A atenção devia ser voltada para cada caso, exigindo aproximações particulares em trabalhos de restauração ou reconstrução. Os órgãos surgem como testemunhos e monumentos que devem ser considerados nas suas inserções em processos culturais e, reciprocamente, como agentes e motores de desenvolvimentos, conservadores ou restauradores, mas também potencialmente renovadores.
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